Depois de ler a série de três reportagens "Infância Esquecida", escrita por Felippe Aníbal e publicada na Gazeta do Povo em 13, 14 e 15 de abril, inspirei-me a escrever este artigo.
Sou Alyson Miguel Harrad Reis. Tenho 13 anos, sou negro, de cabelos escuros e encaracolados, tenho 1,62 metro de altura. Fui adotado com 10 anos e pertenço agora à família Harrad Reis. Durante três anos passei por sete abrigos, passando de um a outro, fugindo e vivendo situações precárias. Quando cheguei à casa dos meus pais adotivos eu era muito birrento, bagunceiro e mal-educado. Durante dois anos, meus queridos e amados pais me deram uma educação muito rígida, mas é a melhor que eu já tive. Inclusive, na aula de Inglês, um colega chamou meus pais de gays e a professora falou para ele que meus pais, sendo homossexuais assumidos, me dão melhor educação do que qualquer um dos pais das crianças da escola e da minha sala.
Quando cheguei à minha escola, perguntei para os meus colegas sobre a rotina deles e me disseram que não tinham rotina; a cada dia faziam uma coisa diferente, o que quisessem: chegavam em casa, almoçavam, dormiam até as 6 da tarde, depois ficavam no computador e nem faziam as tarefas. Eu até falei para o meu pai que a nossa família não era normal porque, comparado à rotina e ao comportamento dos meus amigos, os meus são totalmente diferentes. Nenhum deles tem contrato, rotina e combinado. Quando falei para os meus pais que eu era adotado por eles, disseram que eu não era mais adotado: era seu filho de verdade.
É triste saber que, no Brasil, menos de 1% das famílias habilitadas quer adotar crianças acima de 8 anos. Eu afirmo que isso é causado pelo racismo e preconceito de idade. Negros e adolescentes também são humanos e merecem os mesmos direitos de família como os brancos e crianças mais novas.
A Gazeta do Povo mostrou os números da adoção e das infâncias esquecidas. Em Curitiba, há 668 crianças e adolescentes acolhidos, 160 aptos à adoção, e 816 famílias habilitadas. No Paraná, são 3,5 mil acolhidos, 653 aptos à adoção, e 5,1 mil famílias habilitadas. E, no Brasil, são 46,6 mil acolhidos, 5.260 aptos à adoção e 30,4 mil famílias habilitadas.
Eu agradeço a meus orixás por ter uma família, porque ninguém merece ter o governo como pai e a prefeitura como mãe. É melhor ter uma família de carne e osso. Quero fazer três propostas para que as crianças e os adolescentes não fiquem sem famílias.
Primeiro: que a Justiça não fique enrolando, tire logo o poder familiar das mães e dos pais que não podem ficar com os(as) filhos(as) e agilize a fila da adoção, porque a fila anda, a catraca gira; se sentiu saudades, vai para o fim da fila.
Segundo: que as famílias habilitadas tenham solidariedade e não tenham preconceito de raça, idade ou doença; beijinho no ombro para o preconceito.
Terceiro: que as tevês e os jornais façam campanhas para que as pessoas adotem crianças/adolescentes acima de 8 anos e negros, porque senão eles crescem sem lar, sem educação e sem carinho.
Enfim, que a sociedade e a Justiça cumpram o Estatuto da Criança e do Adolescente e priorizem o bem-estar das crianças e dos adolescentes.
Alyson Miguel Harrad Reis, 13 anos, é estudante.
Dê sua opinião
Você concorda com o autor do artigo? Deixe seu comentário e participe do debate.
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Doações dos EUA para o Fundo Amazônia frustram expectativas e afetam política ambiental de Lula
Painéis solares no telhado: distribuidoras recusam conexão de 25% dos novos sistemas
Deixe sua opinião