| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

O Dia Nacional da Adoção, celebrado neste 25 de maio, é uma data que inspira debates e reflexões. No Brasil, os temas envolvendo crianças e adolescentes têm sido fonte de discussões permanentes, nas esferas pública e privada, na tentativa de dar cumprimento integral e aprimorar cada vez mais o atendimento ao seu bem-estar, conforme previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente. Mas, neste 25 de maio, façamos diferente: em vez de falar das mazelas sociais que atingem nossa população infanto-juvenil, vamos nos debruçar sobre o amor. Um amor diferente.

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Trata-se desse sentimento especial que os pais adotivos trazem dentro de seus corações. E por que seria diferente, perguntariam alguns? Porque filhos naturais são fáceis de serem aceitos e amados; a consanguinidade é fator determinante para facilitar a criação dos laços entre o pai, mãe e o filho que está sendo gestado. A natureza é sábia e dá o período de nove meses para os pais se prepararem psicoemocionalmente para receber seu filho. Assim, fica fácil amar.

Difícil é abrir mão da previsibilidade do biotipo do filho que vai nascer. Na família biológica, mesmo que o filho não vá se parecer com um dos genitores, certamente terá traços de parentes ou qualquer pessoa que componha a árvore genealógica dos pais.

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Difícil é não saber quando e com quantos anos seu filho irá chegar, se terá irmãos, qual sua cor, suas características, as heranças atávicas e o que poderá ter passado ainda em estado gestacional e talvez nos primeiros anos de sua vida.

O olhar que pais adotivos especiais possuem é o mesmo que os que labutam nessa área fascinante da infância e da juventude precisam ter

Difícil é uma espera que não se sabe se terá fim, a ansiedade de ser chamado pela Vara da Infância e da Juventude para conhecer uma criança, a demora que muitas vezes se transforma em angústia, frustração e desesperança. Difícil é fazer a esperança renascer a cada dia, sem adoecer emocionalmente.

Difícil é se deparar com pretendentes a adoção que escolhem as características individuais minuciosamente: de tenra idade, olhos claros, pele alva, bonita, saudável como os genitores da criança, como se pudessem “construir” uma criança para nascer de seu imaginário, que deverá ser tão perfeita quanto sua idealização.

Há de se fazer também uma homenagem aos pais adotivos internacionais. Esses, em sua grande maioria, são especialistas nesse amor diferente e sem fronteiras; aceitam suas crianças sem ao menos conhecê-las presencialmente, se preparam durante meses para sua vinda ao Brasil, onde permanecem no mínimo 45 dias até a conclusão da adoção. Não lhes interessa a cor; aceitam crianças grandes, às vezes adolescentes, para não separar irmãos. Respeitam o passado dos filhos adotivos e, principalmente, a existência de vínculos fraternos, se esforçando para a manutenção das relações entre os irmãos, quando alguns deles não tenham sido adotados ou o tenham sido por outro núcleo familiar.

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É preciso quebrar paradigmas para avançar. Calar o discurso xenofóbico daquelas pessoas que, por preconceito ou por desconhecimento, defendem que crianças e adolescentes que não despertaram o interesse para uma adoção nacional permaneçam no país, em vez de serem adotados internacionalmente. Pais adotivos preparados e capazes são similares no mundo inteiro. A diferença está apenas no local onde vivem. Há quem prefira que um grupo integral de irmãos, que poderia ser adotado junto ou em subgrupos no âmbito internacional, seja separado um a um, colocando em adoção nacional somente os menores e condenando os maiores a viver até a maioridade em regime de acolhimento. Aí cometem-se dois grandes equívocos: inviabilizar a chance da adoção dos irmãos mais velhos e separar a fratria, sequestrando sua história e o direito da preservação dos vínculos fraternos.

Priorizar a adoção nacional está previsto no artigo 50, parágrafo 10.º, do ECA. Contudo, a razoabilidade deverá prevalecer, sem sacrifício ao que está preconizado no artigo 28, parágrafo 4º: “os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda na mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais”.

Leia também: Super-heróis e adoção (artigo de Ana Harmatiuk Matos e Eduardo Walger, publicado em 8 de junho de 2012)

É dever sempre procurar viabilizar o melhor atendimento ao interesse das crianças e adolescentes. Elas crescem e sentirão necessidade de buscar as suas raízes. Então, é preciso que, como agentes de mudança e participantes da rede de atendimento, cada um se proponha a fazer o melhor e aja como um facilitador no presente, com vistas ao futuro.

O olhar que pais adotivos especiais possuem é o mesmo que os que labutam nessa área fascinante da infância e da juventude precisam ter: um amor diferente e que transcende. Um festivo Dia Nacional da Adoção também a todos aqueles que, em seu cotidiano, profissional ou voluntariamente, em diferentes segmentos, lutam na tentativa de mudar para melhor o destino de vidas. A eles envio uma mensagem postada recentemente em nas mídias sociais por um jovem de 18 anos, que tinha 8 quando foi adotado internacionalmente com o irmão. Seus outros dois irmãos, da Comarca de Cascavel (PR), foram adotados por outra família próxima, e os quatro irmãos cresceram juntos e mantiveram os vínculos fraternos: “10 anos atrás, duas mães e dois pais deram o maior passo de suas vidas... eles decidiram criar uma família, colocando todo o desejo e alegria naquele dia que mudaria suas vidas. Sabiam que eles estavam indo ao encontro, sabiam que não seria a coisa mais fácil do mundo, mas não pensaram duas vezes para viajar 10.063 quilômetros de sua cidade-mãe. Hoje, depois de dez anos, ainda estamos aqui, depois de discussões, desentendimentos, abraços e emoções que apenas nós oito conseguimos entender. Chegamos até aqui juntos e ainda temos muito tempo pra dedicarmos a vocês, para nos dedicarmos. Obrigado por tudo”.

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Amélia Reiko Jojima é coordenadora da Comissão Estadual Judiciária de Adoção, da Autoridade Central Estadual da Corregedoria-Geral da Justiça, do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.