| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Mais uma vez ficamos chocados ao ver os dados do Pisa, mostrando que não houve avanços na qualidade da educação básica brasileira. De 70 países, o Brasil ficou na constrangedora 65.ª posição, à frente apenas de Argélia, Tunísia, República Dominicana e de duas ex-repúblicas da antiga Iugoslávia, Macedônia e Kosovo. Essa revelação envergonha e preocupa. Mais de 70% dos estudantes brasileiros não atingiram o nível 2 de ensino, numa escala que vai de zero a 6. A pesquisa mostra mais uma vez como o país não está fazendo o dever de casa, ao deixar de priorizar a educação, maior alavanca do desenvolvimento humano e, por conseguinte, econômico e social.

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Os números negativos, se devidamente mapeados, podem ajudar a lançar luzes sobre como podemos virar o jogo e ainda servir como bússola orientadora do caminho a ser percorrido. Simples? Nem um pouco, dada a nossa dimensão geográfica de proporções continentais, retalhada por toda sorte de desigualdades. Mas não há dúvidas de que podemos fazer melhor. Essa guinada necessita de um movimento da nação que promova um diálogo sério e comprometido com a implementação de mudanças no menor espaço de tempo possível, envolvendo profissionais da educação e instâncias governamentais de todas as esferas.

Está cada vez mais claro que o professor em sala de aula precisa aperfeiçoar metodologias de ensino para assegurar o direto de aprender. Deve ser capaz de fazer qualquer aluno aprender, potencializando os conhecimentos anteriores e paralelos em favor da construção de sentido e significado para o que se pretende ensinar de novo. Mas como identificar os espaços de melhoria da atuação docente?

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É necessário reinventar a forma de ensinar para que não se perca o desejo de aprender

O Programa Descoberta, inspirado em uma iniciativa da Fundação Bill & Melinda Gates que contou com a participação direta de pesquisadores das mais renomadas universidades norte-americanas, como Harvard, Chicago e Stanford, sendo capitaneado no Brasil pelo Grupo Positivo, é uma das inciativas desenhadas para esse fim. Os professores são avaliados em plena sala de aula por outros professores e pelos próprios alunos. O programa mostra uma relação direta entre a performance dos professores e o rendimento dos estudantes acerca do que se pretende que os alunos aprendam com a intervenção pedagógica.

Os alunos também precisam fazer a sua parte. Precisam se assumir na profissão de estudantes. No Brasil, quando se pergunta para donas de casa e estudantes qual a sua profissão, normalmente a resposta é “eu não trabalho”! Essa mentalidade atrapalha o empenho e a seriedade que essas funções desempenham na sociedade. As políticas públicas também têm papel fundamental nesse salto qualitativo que precisamos empreender. Revisar a base curricular nacional, sua coerência e coesão com nosso tempo, aproximando o que se pretende ensinar ao dia a dia desse estudante, a fim de que se amplie os horizontes de atuação desses jovens no mundo.

O gosto pela investigação e a curiosidade são características humanas que devem fertilizar as estratégias para aprender, além de serem cultivadas pelo professor pelo fato de serem a base do pensamento criativo, tão exigido no mundo do trabalho. Não faltam meios para isso, desde o olhar atento do professor à participação de cada um em sala de aula até o incremento de linguagens contemporâneas oferecidas pela tecnologia que aproxima o mundo do estudante ao mundo da escola, fazendo com que ele se sinta considerado no planejamento das aulas.

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Para aprender é necessário querer. Mais do que isso, é preciso coragem! O que move o corpo antes aquece o coração. O professor tem, portanto, de tocar esse aluno, entendendo que seu trabalho está a serviço da formação de cidadãos críticos e inovadores. Gente humanizada que pensa e age, integrando conhecimentos em favor de soluções sustentáveis para um mundo melhor.

Sem levar em conta essas premissas, o Pisa parece indicar um cenário desolador, de poucas perspectivas. Mas ainda bem que não é só isso. Como ressaltamos, já existem ações testadas que podem ajudar a mudar o panorama. É um equívoco descartar todas as contribuições que os diferentes tempos da educação nos proporcionaram. Mas os tempos são outros e exigem de todos velocidade, direção e objetivos claros, a partir de diagnósticos como esse.

O desafio começa acreditando que não se pode continuar ensinando da forma como os professores aprenderam. O novo mundo suscita novas formas de interação humana. Isso envolve o engajamento da sala de aula com a era tecnológica, mudanças no cenário educacional por meio da revisão da base curricular e novas posturas de atuação de professores e estudantes.

É preciso trabalhar sob a constatação de que é necessário reinventar a forma de ensinar para que não se perca o desejo de aprender sempre mais e melhor sobre o mundo que nos cerca. E, certamente, o ensino tradicional com foco na exposição verbal, lista de exercícios, repetição e memorização não dará conta de garantir a relevância da escola no cenário atual.

Acedriana Vicente é diretora pedagógica da Editora Positivo.