Uma rotina sempre presente em campanhas e debates eleitorais é a competição entre os candidatos a respeito de "quem criou mais empregos". A presidente Dilma tem afirmado que criou mais de 5 milhões de empregos em seu governo mais do que seus antecessores tucanos. Será?
Bem, lamento informar, mas Sua Excelência não criou emprego algum. Mas que ela não se preocupe: seus adversários também não criaram nem um mísero emprego sequer pelo simples motivo de que político algum pode "criar empregos", independentemente do seu partido ou de sua intenção.
Um político só "cria emprego" quando aumenta o número de funcionários públicos ou subsidia a contratação de empregados na iniciativa privada. De um modo ou de outro, ele não estará "criando" empregos, mas meramente transferindo-os de um lado para outro da economia. Explico: o dinheiro para pagar o salário dos funcionários do governo ou das empresas subsidiadas vem dos impostos que pagamos; esses impostos vêm de dinheiro que, de outra forma, estaria livremente circulando no mercado em mãos de cidadãos e empresas que o alocariam de acordo com suas preferências e valorações subjetivas. Ao tomar recursos da sociedade para alcançar seus fins, o governo acaba eliminando oportunidades de criação de emprego no setor privado.
Só quem cria emprego é o empreendedor, por meio da inovação e do processo de descobertas de lucro não aproveitadas no mercado. Ao vislumbrar novas maneiras de alocar os recursos existentes que gerem mais satisfação aos seus consumidores, o empreendedor cria riqueza e, com ela, novas oportunidades de trabalho em profissões que nem se imaginava que poderiam existir.
O melhor que um governante pode fazer é eliminar barreiras e obstáculos ao processo de descoberta de oportunidades empreendedoras no mercado. Reduzir a burocracia, diminuir a tributação, dar mais autonomia às partes para que possam cooperar livremente de acordo com seus próprios interesses. Tentar agir ativamente em nome da criação de postos de trabalho vai apenas criar distorções no mercado, beneficiando grupos poderosos que dispõem de canais políticos para influenciar a tomada de decisão na formulação de políticas públicas supostamente pró-emprego. Sempre à custa do consumidor e, em especial, do trabalhador mais pobre e menos qualificado, a quem só resta o desemprego ou a informalidade, pois os eventuais contratantes de sua mão de obra menos produtiva terão menos recursos para contratá-lo.
Do outro lado do Atlântico, parece que a última crise em Portugal tem servido para trazer um pouco mais de lucidez ao debate a respeito da capacidade governamental de se criar empregos. O primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, afirmou: "Não são os governos que criam empregos, toda a gente sabe disso. São as empresas que geram oportunidades de emprego na medida em que possam ter oportunidades de crescer também".
Talvez nossa classe política, do alto de sua arrogância dirigista, não esteja ainda preparada para essa lição de humildade. Esperamos que, diferentemente do ocorrido com nossos patrícios portugueses, não seja necessária uma crise econômica de grandes proporções para fazer com que entendam o básico: é mais fácil um humilde pipoqueiro criar um emprego do que um presidente da República fazê-lo.
Fábio Osterman, cientista político, é diretor do Instituto Liberal.
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