Se a saúde fosse materializada em forma de objeto e vendida, certamente todos nós entraríamos em uma loja para adquirir "uma saúde". Em certa medida, uns mais, outros menos, todos precisamos de "alguma saúde". No imaginário coletivo, a saúde tem apenas uma configuração simbólica, embora todos a queiram em abundância. Podemos afirmar, diante de tantos resultados de pesquisas, que são a minoria aqueles que se sentem protagonistas de sua própria saúde. Permanecemos clamando por saúde, reivindicando mais unidades de atendimento, mais hospitais, mais equipamentos, mais abastecimento de medicações e reivindicamos principalmente mais profissionais que nos cuidem!
Entra neste contexto uma pergunta que não quer calar: em algum momento, nesse clamor, pensamos sobre a formação desse profissional? Pensamos em como ele foi ensinado durante sua formação acadêmica? Não seria parte de nossa reivindicação que o profissional que nos vai prestar cuidado fosse ensinado e formado para desenvolver uma visão integral do homem, ampliar cotidianamente o conceito de saúde, de maneira a prover as reais necessidades do ser humano? Não seria igualmente importante que fossem ensinados sobre a importância do compromisso social?
Estas e muitas outras questões relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem podem modificar, e muito, o cenário da saúde no Brasil! São ao todo 14 profissões que compõem a área da saúde e que estão sob a égide de legitimação de sua práxis, com maior condução desde a promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais, em 2001.
Alguns vivenciam novos tempos, com a marca da velocidade na construção do conhecimento, com a marca de novas formas de relacionamento profissional/paciente, com a marca do trabalho inter e transdisciplinar. Infelizmente permanecem ainda os velhos tempos, com a marca do campo fértil para a construção do conhecimento, mas impedido de crescimento ágil pela centralização do docente como "detentor do saber", com a marca do campo árido no relacionamento professor/aluno refletindo a eterna falta de competência para o relacionamento interpessoal.
Emancipação é a palavra! O que queremos são profissionais emancipados em relação à visão de mundo, prontos para a contínua e permanente reflexão sobre a inserção da saúde em novos (ou outros) contextos, adaptados à agilidade proporcionada pela tecnologia da informação, capazes de não apenas reproduzir o saber, mas de transformar o conhecimento em sabedoria para promoção do cuidado humano.
As escolas, instituições formadoras dos profissionais de saúde, minimamente pressionadas pelas políticas públicas, se movem lentamente, deixando à margem a discussão sobre novas metodologias de ensino-aprendizagem que abririam o leque da criticidade e indissociabilidade teórico-prática. Por sua vez, as instituições que recebem estes profissionais apontam para a parca formação, mas igualmente pouco se movem em busca de novas práticas subsidiadas pela adequada educação permanente com vistas às novas formas de fazer/ser/aprender/conviver.
Neste sentido, destacamos o evento que ocorrerá em Curitiba de 8 a 10 de maio, o VII Fórum Nacional de Metodologias Ativas de Ensino-Aprendizagem na Formação em Saúde. Garantindo o apoio às mudanças na formação dos profissionais de saúde, o Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Inesco) promove incansavelmente espaços de discussão para fortalecer o movimento das instituições de ensino em busca de atender às Diretrizes Curriculares Nacionais e a sistematização de suas experiências inovadoras. Nesses dias, o Salão de Atos do Parque Barigui receberá professores, alunos e pesquisadores apaixonados pelo assunto, possibilitando ampliar o envolvimento de todos para ultrapassar paradigmas educacionais, permitindo, em conjunto, a busca por uma formação dialética de reflexão-ação-reflexão, transformadora da saúde.
Afinal, quem de nós não quer saúde e saúde de qualidade? Que tenhamos, então, profissionais com consciência crítica, mente criativa, de contínua indagação, com competências técnicas, éticas, políticas e, acima de tudo, competências humanas para promover saúde com sensibilidade e autonomia.
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