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Agro brasileiro: mais valorização e menos desinformação

Imagem ilustrativa. (Foto: Daniel Castellano/Arquivo/Gazeta do Povo)

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Além de tecnológico e diversificado, o “agro” é gente. Nos últimos 50 anos, o setor agropecuário foi a atividade econômica que mais cresceu na economia, com ganhos sucessivos de produtividade, algo que nenhum outro setor experimentou. A safra agrícola de 2022 representa um novo recorde de produção de grãos, com 271 milhões de toneladas produzidas em uma área de 74 milhões de hectares, apenas 8,6% do território nacional.

O agronegócio gera emprego e renda. Foi capaz, ao longo do tempo, de reduzir o preço dos alimentos, ocasionando o que seria talvez o maior programa de redistribuição de renda no Brasil. Desde 1970, o preço da cesta básica caiu quase 75%, resultado que subsidiou todas as famílias, mesmo no período inflacionário dos anos 80. A população ocupada no campo está em 18 milhões de pessoas, que representam 20% do mercado de trabalho. São cidadãos que pagam impostos e promovem o desenvolvimento regional, preservando o meio ambiente e produzindo os alimentos.

O agricultor brasileiro sabe que a sustentabilidade é central na equação produtiva. Com sementes mais produtivas, engenharia genética, plantio direto etc., a produção aumentou sem que houvesse a necessidade de incorporar mais áreas.

A expansão agropecuária contribuiu para a interiorização e ocupação do Brasil. Durante muito tempo, os brasileiros referiam-se às terras do planalto central como “campos cerrados”, por causa das características inadequadas ao sustento agrícola. Após a criação da Embrapa em 1973, com o avanço da pesquisa e o melhoramento genético, o Cerrado foi incorporado à produção. Esse bioma cobre uma área de 204 milhões de hectares, área superior ao cinturão do milho americano, equivalente a 73% do território argentino ou mesmo 3,7 vezes a superfície da França.

Ciência e tecnologia foram os pilares de toda transformação. Desenvolveu-se, por exemplo, a cultivar de soja que possibilitou semeadura antecipada, que aliada à precocidade, favoreceu a safrinha de milho na melhor época. Em 2011, a safrinha se tornou superior à primeira safra. Atualmente, a participação da safrinha está em torno de 76%. Esse aumento de produção foi acompanhado pelo uso do plantio direto, que diminuiu os efeitos da erosão, melhorou atributos do solo, conservou água e sequestrou carbono na atmosfera. Muitas regiões arenosas vêm-se transformando em áreas produtivas por causa do manejo adequado do solo.

A extensão rural é outro importante vetor na difusão do conhecimento. No passado, a participação pública foi preponderante. No presente, o segmento está mais estruturado e busca assistência técnica via mercado. O investimento em tecnologia e extensão amplia a produtividade do pequeno agricultor, que representa 84% dos estabelecimentos agropecuários e 74% do pessoal ocupado. A fruticultura irrigada é um exemplo, que dinamizou regiões do semiárido e promoveu as exportações de frutas, demonstrando o potencial de crescimento produtivo como medida de redução da pobreza.

Junto ao sucesso do agronegócio, há a preservação ambiental. Até 1988, as unidades de conservação e terras indígenas cobriam 2,3% e 1,9% de nossas terras, respectivamente. Em 2018, a área de vegetação protegida e preservada correspondeu a 66,5% do território, dos quais 10,4% foram de unidades de conservação e 13,8% de terras indígenas. O Código Florestal de 2012 foi um marco na lei ambiental. No último ano, a exploração agrícola preservou mais do que o exigido, 26% no Sul, 29% no Sudeste e 49% no Centro-Oeste. Em média, somente a produção “dentro da porteira” preservou um quarto do país (25,6%).

Enquanto no Brasil se criam polêmicas em torno do desmatamento e uso de defensivos, desvirtuando a realidade, a política agrícola da União Europeia aproxima setor produtivo e sociedade. São objetivos: 1) apoiar o produtor e melhorar a produtividade, garantindo oferta estável e preços acessíveis; 2) contribuir com a gestão sustentável da produção; e 3) promover emprego e renda nas zonas rurais. O agricultor é visto como guardião dos recursos naturais. Do orçamento europeu, em 2019, 58 bilhões de euros (ou 36% do total) foram destinados à política agrícola comum, sendo cerca de 72% pagamentos diretos, subsídios que remuneram os agricultores pela preservação ambiental e pela entrega de bens públicos, tais como o cuidado do campo. O auxílio europeu aos agricultores equivale a 47% do valor bruto da produção agropecuária no Brasil. É hora de regulamentarmos os pagamentos de serviços ambientais.

O agricultor brasileiro sabe que a sustentabilidade é central na equação produtiva. Com sementes mais produtivas, engenharia genética, plantio direto, máquinas e tratores agrícolas etc., a produção aumentou sem que houvesse a necessidade de incorporar mais áreas. Essa economia de área é denominada de "efeito poupa-florestas". De 1990 até hoje, economizou-se algo em torno de 366 milhões de hectares, praticamente 43% do território nacional, ou área 7 vezes maior que a França. Em termos de emissão de carbono na atmosfera, em 1990, foi possível produzir 243 toneladas de alimentos por 1 tonelada de carbono equivalente. Atualmente, com a mesma tonelada de carbono, é possível produzir o triplo de alimentos (ou 774 toneladas). Quanto ao uso de defensivos, aprovaram-se novos registros introduzindo novas moléculas, menos tóxicas e ambientalmente corretas, e assim substituindo produtos obsoletos. Isto é sustentabilidade produtiva!

Embora a demanda internacional por alimentos seja crescente e a dinâmica setorial favorável, é preciso investir em infraestrutura e em promoção mais efetiva das exportações, que requer inclusive uma valorização maior do nosso agricultor com menos desinformação aos consumidores, nacionais e internacionais. O “agro” brasileiro é um elo da “cadeia de produção”. Está, portanto, inserido em uma lógica de oferta e demanda, o que explica o desenvolvimento tecnológico. Devemos nos orgulhar do êxito desse setor, e procurar melhorá-lo, aumentando ainda mais sua vantagem competitiva sobre outros países, por meio da clareza sobre a preservação ambiental e da divulgação de sua competência: na qualidade dos produtos, no preço mais baixo, no respeito ao trabalhador e na atenção ao consumidor. E o mais importante, não devemos taxar o agronegócio em detrimento da indústria. Erros do passado não devem ser cometidos no futuro. Um bom plano econômico deve compreender o caso de sucesso capitalista do agronegócio nacional e aplicar este modelo ao restante de nossa economia. O setor tem mais a contribuir com o desenvolvimento econômico, e é leviano quem diga o contrário.

José Eustáquio Ribeiro Vieira Filho, mestre em Economia Aplicada e doutor em Economia, é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

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