Bom desempenho dos produtos agropecuários foi um dos principais fatores para o resultado de julho.| Foto: Michel Willian/Gazeta do Povo
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Para muitos a força do agronegócio é uma grande novidade. Pesquisas recentes ainda mostram que boa parte dos brasileiros ainda acredita que o agronegócio é uma mistura do personagem “Jeca Tatu”, do saudoso comediante Mazzaropi, com malvados e mal-intencionados destruidores da natureza em prol de novos campos para plantios e pastagens. Uma visão arcaica, retrógrada, míope, ignorante, burra e que só traz prejuízos e desserviços ao país.

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Mas afinal, o que e como é o agronegócio brasileiro? Que milagre faz com que sempre traga resultados expressivos para a economia brasileira, mesmo em momentos de crises agudas e devastadoras como a pandemia provocada pela Covid-19? E principalmente, o que se pode aprender com o setor da economia mais resiliente do momento? Muitas coisas, muito mais do que possa imaginar.

Para responder a estas perguntas, de maneira breve, trago dados. O agronegócio foi responsável por 51% de todas as exportações brasileiras no primeiro semestre deste ano, mas em média, representa de 45 a 50% todos os anos. De 21 a 25% do PIB. Desde março, bate recordes atrás de recordes de exportação, em volume e receita. Consagrou-se definitivamente o maior produtor e exportador de soja e bovinos do mundo, com folga, sem falar de outras proteínas animais (suínos e frangos), além de cana-de-açúcar e derivados, algodão, café, suco de laranja, milho e muito mais. E faz tudo isso atuando em apenas 30,2% do território, dos quais 9% de lavouras e florestas plantadas, 13,2% de pastagens plantadas e 8% de pastagens nativas, segundo último levantamento da Embrapa.

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Preserva postos de trabalho, em plena pandemia. Dos aproximados 1,2 milhão de postos de trabalho perdidos no saldo acumulado de janeiro a junho de 2020, teve um aumento de 4,21% ao abrir mais de 62 mil vagas no período. Único setor com saldo positivo. Passou a pagar melhor também, com um salário médio de admissão muito próximo ao da Indústria e Comércio. Dados estes publicados pelo Novo Caged, do Ministério da Economia.

Milagre? Não, ciência. Uma vez mais a ciência traz resultados sustentáveis, de curto, médio e longo prazos. Desde a criação da Embrapa, na década de 1970, o agronegócio do Brasil tem como alicerce incontestável, a ciência desta inteligente e competente empresa. Toda a cadeia agroindústria utiliza técnicas e recomendações para um agronegócio tropical, eficiente, focado, sustentável, que preserva e economiza insumos e recursos importantes como água e solos. O agro é ciência e por isso é constante e sustentável e traz resultados espetaculares, que nenhum outro país consegue, por mais que tente.

E o que se pode aprender com tudo isso? Para ter resiliência e trazer tantos resultados, primeiro é preciso ter foco e entender a vocação. Mesmo sendo menosprezado e intitulado como o “patinho feio” do Brasil pelo seu próprio povo, o agro continuou de cabeça erguida e focado. Foi à escola, fez o dever de casa, estudou muito para desenvolver ciência e tecnologia própria. Teve a humildade de buscar novas fronteiras, de unir em uma técnica altamente sustentável a lavoura, pecuária e floresta (ILPF). É audacioso e inovador. Mesmo sem ser recompensado diretamente por isso, preserva 20,5% de toda a área verde do país, que ainda detém 66,3% de território intocado. Não se importou com direta, esquerda, com centro. Apertou o passo, olhou para frente, foi lá e fez. Simples assim. Seu foco é abastecer o mundo e gerar riqueza.

Isso é agregar valor. Tenho participado constantemente de fóruns mundiais sobre o tema, e parece que o maior concorrente do agro brasileiro ainda é, infelizmente, o próprio brasileiro. Países mundo afora escutam boquiabertos o que se faz por aqui e ficam inconformados com a preservação das florestas e o potencial futuro. Mas nosso povo, ao preferir as séries televisivas à ciência, parece ainda pensar, que aquele que garante sua energia, alimentos, bebidas, vestimentas, medicamentos e diversos outros produtos, ainda é um inimigo, é um “Jeca Tatu”, um coitado, que vive na roça e desmata.

A nota de duzentos reais ainda não trouxe um boi, uma soja, uma cana-de-açúcar estampada no seu verso. Talvez por valer menos de 50 dólares. Quem sabe um dia, o povo entenda a sua principal vocação. Só que não seja tarde.

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Eduardo Müller Saboia é mestre em Administração Estratégica (PUC-PR), com MBA em Agronegócios (Esalq/USP), pós-graduado em Gestão Industrial e Business Management técnico e engenheiro industrial mecânico (Cefet-PR). Trabalha na indústria de maquinários agrícolas, é professor de Agricultura 4.0 na pós-graduação da UFPR e head de uma empresa de treinamento e consultoria em agronegócio.