O negócio feito pela Petrobras com a empresa belga Astra Oil (aliás, dirigida por um ex-funcionário seu, como informa a imprensa) é inexplicável sob qualquer aspecto e para qualquer pessoa, com a exceção talvez da doce Polyana, que não vê maldade em nada, e da Velhinha de Taubaté, aquela parente do Luis Fernando Verissimo que é a única pessoa do país que acredita no que diz o governo.
Vamos lá: em 2006, a Petrobras que não é nenhum boteco de venda de bananas e que deve ter um exército de advogados, analistas, técnicos, assessores e consultores de nível internacional aceita pagar US$ 360 milhões por 50% de uma refinaria adquirida pelo vendedor (a tal empresa belga) por US$ 42 milhões menos de dois anos antes. Depois, é obrigada a comprar o restante da refinaria, pois havia duas cláusulas, uma de "put" (que qualquer estagiário sabe representar um direito/obrigação de comprar algo em uma data futura no caso, o restante da refinaria) e que teria sido negligenciada pelo diretor internacional, Nestor Cerveró, no resumo que apresentou ao Conselho de Administração a respeito do negócio. Como consequência desse imbróglio todo, a Petrobras acabou perdendo um processo de arbitragem, ratificado por um juiz norte-americano e gastando mais de US$ 1 bilhão (é isso mesmo, do seu, do meu, do nosso dinheiro)!
Três perguntas apenas: o Conselho de Administração da Petrobras aprova o negócio baseado apenas em um resumo executivo do diretor internacional, Nestor Cerveró? Resumo, aliás, que era segundo alega a então presidente do Conselho tecnicamente falho e incompleto? O tal exército de advogados, analistas, assessores, técnicos e consultores não estudou o negócio antes que ele chegasse ao Conselho? Se estudou, a que conclusões chegou? Se achou que era um bom negócio, como se explicaria que, quando a Petrobras tentou se livrar da refinaria, vendendo-a, só recebeu uma proposta de US$ 180 milhões pela empresa toda? E, depois que saiu do Conselho e teve de ser materializado em contratos internacionais, ninguém se preocupou com as tais cláusulas antes que os mesmos fossem firmados?
Terceira: o tal Nestor Cerveró, que teria omitido da alta direção da empresa dois "detalhes" que vieram a lhe causar um prejuízo próximo de US$ 1 bilhão (e que com isso teria incorrido em grave falha por falta de exação no cumprimento de suas obrigações como diretor), sofreu alguma sanção? Denunciado à CVM? Processado? Preso por tão estranha omissão? Ou é verdade que, depois de feito o negócio, deixou a diretoria da Petrobras... para assumir a direção financeira da BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras, demonstrando que continuava a gozar da confiança da empresa e de seus dirigentes?
Devo ter entendido mal. Ou então... Tudo é tão estranho ainda mais quando a Polícia Federal prende por suspeita de lavagem de dinheiro outro ex-diretor da estatal, Paulo Roberto Costa, que recebeu um Land Rover de um doleiro como "retribuição de serviços de consultoria" que sinto no fundo de minha cabeça uma voz que martela em meu cérebro a frase que um querido amigo gosta de repetir: aceito qualquer coisa, menos que queiram me passar um atestado público de estupidez e burrice irrecuperáveis.
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do doutorado em Administração da PUCPR.
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