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"O mineiro só é solidário no câncer”. A frase que Nelson Rodrigues atribuía a Otto Lara Resende, que refutava a autoria, indicava que eram as situações extremas que levavam alguns a se importar com os outros, a exercer a solidariedade. Como mineira, tenho minha própria opinião sobre essa afirmação, mas concorde ou não com essa fala, é fato que em situações de emergência as pessoas se mobilizam e buscam oferecer ajuda. Roupas, alimentos, dinheiro ou, simplesmente, tempo. A tragédia no Rio Grande do Sul é mais um exemplo. Em poucos minutos olhando as notícias ou as redes sociais, o que sobressai ao sofrimento são os exemplos de solidariedade de voluntários achando formas de aliviar o impacto.
Como gestora de gente, estou sempre envolvida em ações de voluntariado. Isso porque a tendência natural de quem trabalha sem medir esforços é oferecer uma solução, é querer que tudo se restabeleça e que as pessoas tenham uma vida normal com o básico de que precisam. Os colaboradores da Sabesp se colocam do lado da solução. Se mobilizam e se organizam rápido, priorizando e otimizando recursos, procurando uma forma de se envolver e ajudar. Esse modo de agir é guiado por valores que vão ao encontro dos da companhia. Não entregamos apenas saneamento: somos um time que viabiliza o futuro através do cuidado com vidas.
Cada contribuição por mais limitada que pareça a um tema ou área, quando somada a outras, forma uma colcha de retalhos que cobre o todo
Diante da emergência no Sul, naturalmente nos mobilizamos. Como sempre, começando pelo simples. Pensando o que é abundante para nós e que tem valor lá nesse momento, a primeira coisa que organizamos foi o envio de mão de obra para ajudar a restabelecer o fornecimento de água potável para as populações atingidas. Nossa capacidade técnica reconhecida é diferencial para encontrar alternativas para obter fontes de água limpa e fazer reparos em sistemas danificados. Rápido, efetivo e de enorme importância. De imediato, a água de volta na torneira traz o mínimo senso de normalidade, de previsibilidade. Num olhar mais ampliado, proporciona um pouco mais de segurança, traz dignidade e segue impactando, ao evitar doenças.
Este exemplo é um convite a refletir sobre como agir em momentos de crise: comece nas coisas simples, abundantes ou acessíveis para você. Uma mãe com os filhos pequenos pode mandar brinquedos; médicos e terapeutas podem oferecer tele consultas; cozinheiros, direcionar sua produção de comida; executivos entregam sua capacidade de coordenar projetos; surfistas de ondas gigantes oferecem sua habilidade em fazer resgates nas águas. Cada contribuição ou ato de solidariedade por mais limitado que pareça a um tema ou área, quando somada a outras, forma uma colcha de retalhos que cobre o todo. A melhor solução para os desafios nunca está exclusivamente nas mãos de alguns, mas na composição, no fluxo. Como fazer essa mobilização conjunta funcionar?
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Parece óbvio que, como no conto popular de Moçambique sobre a competição entre os órgãos do corpo humano para decidir qual deles é o mais importante, a resposta esteja na necessidade de trabalhar em união e olhando todos para um bem comum. Mas isso exige coordenação. Insisto: o primeiro passo é simples, quase intuitivo. O que garante que essa simplicidade seja transformadora é que ela seja conduzida sob visão do todo. Nesse caso, de um bem comum. Isso não apenas alivia o sofrimento imediato, mas também fortalece os laços de um povo e promove uma cultura de gente que se importa e se cuida.
Nunca é demais lembrar que doação é solidariedade, não é descarte. Para enviar doações, use canais oficiais. Além de garantir a sua segurança e a destinação correta, quem está coordenando as ações e tem a visão do todo vai te ajudar a decidir qual a melhor forma de ajudar e aplicar seus esforços da forma mais produtiva e a evitar que se ocupe ainda mais estradas e sobrecarregue a capacidade logística, atualmente prejudicada.
Sabrina de Menezes é diretora de Gente e Gestão da Sabesp.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos