A mídia tem dado grande destaque para o ensino fundamental de nove anos. Pela nova proposta, a alfabetização tem início aos 6 anos. Esse novo caminho para melhorar o ensino se apresenta como um desafio e levanta muitos questionamentos, como tudo o que é novo. Pais preocupados buscam entendimento do que isso significará na vida de seus filhos. Escolas e professores discutem o assunto e traçam metas para implantá-lo.

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Como educadora, tenho me debruçado sobre essa temática e a vejo como um passo importante na equiparação de nossas crianças. Todos iniciando sua alfabetização com 6 anos. Vejo de forma simples e clara a nova proposta, que irá proporcionar às nossas crianças uma alfabetização prazerosa e lúdica na iniciação da aprendizagem do ler e do escrever.

O importante é que o professor que vai trabalhar com essas crianças tenha a sensibilidade e o conhecimento sobre a faixa etária para bem trabalhar as atividades específicas de que elas precisam associadas à iniciação da alfabetização.

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Neste momento, mais que pareceres e resoluções são importantes mudanças metodológicas (na verdade, esse é o desafio) e, porque não dizer, uma postura clara e firme do grupo gestor da escola e de seus professores sobre uma nova proposta curricular de alfabetização para a nova clientela.

Segundo a pesquisadora em educação Esther Grossi, "o primeiro passo é ensinar o aluno a valorizar seu processo de aprendizagem, encorajando suas descobertas, apostando na inteligência de todos eles e incentivando a troca de saberes com os colegas; isto é, trata-se de utilizar uma proposta de ensino fundamental em bases científicas".

Diz ainda a educadora: "Aprender não é chato. Aprender é um barato... Descobrir a magia da junção das letras para formar novas palavras é um jogo muito divertido." Nesse momento, crianças de 6 anos vão se utilizar de jogos para sua aprendizagem e também dos conhecimentos que as rodeiam. Já na infância, a criança lê o mundo em que vive muito antes de um aprendizado sistemático da leitura e da escrita.

Estava eu na Rua Luiz Xavier, no Centro de Curitiba, e à minha frente ia uma senhora com duas crianças. Pude imaginar suas idades: a mais velha com uns 5 anos; a menor com 3 ou 4. Ao passarem em frente às Lojas Pernambucanas, a mais velha apontou com o dedo e, demonstrando sabedoria, leu: Pernambucanas. A pequena não deixou por menos, olhou para o meio da rua e apontou um carro laranja, com um escrito em cima, e falou: táxi.

Estou me referindo ao termo usado por muitos autores, o "letramento", que antecede o processo de alfabetização. Para conseguirmos uma educação de qualidade, é preciso alfabetizar letrando, ou seja, não apenas ensinar a ler e a escrever de forma mecânica, mas no contexto das práticas sociais, tornando o aluno alfabetizado e letrado.

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Não vamos consagrar a idéia de que há alunos das classes populares que são menos capazes que os das classes média e alta, uma vez que estas se alfabetizam com 6 anos. Com isso, consagra-se uma grande injustiça de não confiar na inteligência de todos e a de não apostar que todos podem aprender. Como afirmou Esther Grossi: "Indiscutivelmente, a não-alfabetizacão é o principal problema da educação em nossa linda terra."

Elinor Eschholz Ribeiro é mestre em Educação, professora aposentada da UFPR e professora da Faculdade Uniandrade.