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A escrita é resultante de um processo histórico e representa o compartilhamento de um combinado social originado da necessidade de interação comunicacional com o outro. A escrita, enquanto linguagem, possibilitou um encontro entre pessoas e o usufruir de um instrumento de constituição da consciência humana compartilhada, simbolizando pensamentos e sentimentos. Em outras palavras, a escrita por meio de signos dá forma ao pensamento e o alimenta continuamente. Mas, se por um lado a escrita possibilita encontros entre os seres humanos, por outro, a língua escrita promove desencontros e desafios para a educação, quando o assunto é saber como ensinar e aprender, atendendo cada um em sua especificidade de apropriação.

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Se olharmos para trás, veremos os caminhos percorridos até aqui para responder tal questão, e as respostas obtidas por meio da construção de métodos diferenciados e estratégias que se apresentavam, muitas vezes, como propostas inovadoras para o aluno aprender. O fato é que após uma sequência de planos de alfabetização disseminados no Brasil, vemos a renovação dos discursos que, nas entrelinhas, reproduzem as mesmas concepções de língua escrita e de homem. Ainda, como orientação, anunciam os mesmos procedimentos pedagógicos utilizados no século 20.

Após uma sequência de planos de alfabetização no Brasil, vemos a renovação dos discursos, mas as mesmas concepções de língua e de homem

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Por isso, no Dia Internacional da Alfabetização, muitas reflexões podem ser feitas por todos envolvidos com a educação. Dentre as reflexões, a de que a criança deveria chegar ao mundo letrado por meio de vivências culturais com sentidos reais para ela sobre a escrita e tendo como mediação o “outro social”. O conhecimento e, neste caso, o da escrita se constitui a medida em que a criança faz próprio o conhecimento do outro e compreenda a função social que representa. Entretanto, ao invés desta construção ser realizada de modo significativo o que temos visto são crianças em seu processo de escolarização recebendo uma avalanche de informações técnicas da língua escrita que, frequentemente, a impossibilitam de compreendê-la como algo real, mas, sim, abstrato. O resultado da não apropriação ou das dificuldades da criança em relação à língua escrita pode gerar efeitos negativos em sua constituição e sentimentos de não pertencimento ao grupo social.

Logo, não podemos deixar de considerar neste contexto alguns questionamentos, como por exemplo: Quem é a nossa criança hoje? O que a escrita representa para elas? Como podemos pensar sobre os desafios da alfabetização e letramento diante das inovações trazidas pela Base Nacional Curricular Comum (BNCC)? A proposta de alfabetização e letramento presente nela para os anos iniciais do ensino fundamental tem como foco a apropriação do sistema da língua. Quanto ao processo de apropriação da escrita, esse documento mantém o desafio já indicado nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), ou seja, a tarefa de ampliar o trabalho com os novos gêneros textuais, também conhecidos como os textos multimodais.

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Quanto ao eixo de leitura, antes da BNCC, havia a proposta de ensino das estratégias e modalidades de leitura. A novidade está na questão da intertextualidade, de condições de produção e recepção de textos e o desenvolvimento da postura crítica em relação às informações lidas no texto e a checagem da validade dessas informações. Diante da necessidade do trabalho pedagógico com textos multimodais, há uma reconfiguração das competências e habilidades a serem desenvolvidas que exigirão dos professores mais atenção no planejamento de ensino. Outro aspecto que podemos ressaltar é a orientação de trabalhar junto aos alunos a adesão à leitura. Isso significa que não se trata somente do prazer de ler livros, mas o prazer de ler todos os gêneros discursivos que encontramos nas práticas sociais de leitura.

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O eixo da oralidade enfatiza a produção de textos orais tendo, ou não, um outro sujeito face a face. Nesse sentido, falamos em trazer para o contexto da sala de aula, por exemplo, as webconferências, os blogs, os programas de rádio, entre outros. Já o eixo de análise linguística e semiótica reforça os direitos de aprendizagem da gramática, da ortografia, dos aspectos sintáticos considerando as situações de uso real da língua.

Outra inovação é que, pela primeira vez, a BNCC se posiciona de modo claro quanto à progressão dos conteúdos ao longo dos anos escolares orientando com clareza o que precisa ser desenvolvido e onde se deseja chegar ao final do ano escolar. Assim, os alunos deverão desenvolver ao longo da trajetória escolar um conjunto de habilidades cada vez mais sofisticadas, diversificadas e complexas no que se refere à leitura e à escrita. As crianças de hoje serão os adultos que se formarão por volta de 2030 e 2035, então, os profissionais da educação precisam oferecer as condições necessárias para que dominem as ferramentas das quais necessitam para atuar em um mundo muito diferente daquele no qual vivemos hoje, que demanda cada vez mais autonomia para ler e escrever de modo crítico e com autoria

Luciane Guimarães Batistella Bianchini é pedagoga e psicopedagoga clínica, docente do programa de Pós-Graduação Stricto Sensu da Unopar, pós-doutora e doutora em Psicologia do desenvolvimento e mestre em Educação.