A posse do novo chanceler do governo Temer suscita um conjunto de especulações, sobretudo relacionadas aos impactos do perfil de Aloysio Nunes, substituto oficial de José Serra para o Itamaraty. Ao contrário do ambiente político no qual Serra assumiu a chancelaria, marcado pelo processo de impedimento da então presidente Dilma Rousseff, Nunes assume o comando do ministério imerso em um ambiente de continuidade, com a recém-estabelecida Nova Política Externa.
A transição posiciona o senador em um cargo de importância estratégica para o partido e, também, para o governo. Ainda sob a breve, porém significativa influência de Serra no Poder Executivo – em especial pela reaproximação administrativa e política entre o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a Presidência da República –, tanto o controle da execução da política exterior, instrumento natural de inserção internacional do Brasil, quanto a visibilidade que a pasta possibilita para o PSDB readequaram a relevância do MRE para os objetivos de curto e longo alcance do governo.
A linha clara de continuidade entre Serra e Nunes revela-se pela proximidade de ambos
Os objetivos expressos por Serra contemplam um núcleo comum ao PSDB: a defesa da democracia no entorno regional; o resgate do bilateralismo; o abandono do solidarismo nas relações sul-sul e a remoção das barreiras não tarifárias ao comércio internacional. Em conjunto, estes pontos formaram as bases da Nova Política Externa traçada pelo chanceler, que deixa para Nunes não apenas o cargo, mas um roteiro, com metas e objetivos em andamento.
A linha clara de continuidade entre Serra e Nunes revela-se pela proximidade de ambos, membros do núcleo decisório do PSDB, e pelo histórico dos objetivos expressos na nova política exterior, elaborada com o auxílio de embaixadores-chave em sua formulação e execução, como o ministro de primeira classe e embaixador Rubens Ricupero, o ex-chanceler Celso Lafer e o próprio ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, coautores que auxiliaram Serra na formulação dessa diretriz de política exterior.
A origem da Nova Política Externa tem relação conjuntural com uma antítese ao entendimento de política exterior dos governos Lula e Dilma. Ao serem analisados os múltiplos princípios elencados por Serra, nota-se um acalorado entendimento crítico da “Política Externa Altiva e Ativa” da dupla Lula-Amorim e, posteriormente, da tênue continuidade na execução desta política pela combinação Dilma-Patriota.
O abandono dessa ênfase – orientada pela tentativa de reformar os mecanismos de governança global, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas; a revisão da posição tática estabelecida entre Brasil e Venezuela, no âmbito regional; e a expansão das relações em direção a temas de segurança internacional, como os esforços de mediação no Oriente Médio – deixou um legado, à antiga oposição, de entendimento crítico ao perfil multilateral e reformista empreendido por Lula-Amorim no âmbito do CS e da estratégia inclusiva com a Venezuela, no âmbito do Mercosul. Em alguma medida, Dilma e Patriota já haviam se afastado da ênfase atribuída à reforma das instituições multilaterais globais, mas não haviam reformulado os princípios da inserção internacional do Brasil, nem revisado a posição com a Venezuela, o que passou a ocorrer a partir da ruptura estabelecida por Temer-Serra e que deve continuar com a dupla Temer-Nunes.
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