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Alta das commodities pressiona custos de alimentos e prejudica o bem-estar das famílias

Imagem ilustrativa. (Foto: Michel Willian/Arquivo/Gazeta do Povo)

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Recentemente, os jornais vêm noticiando seguidos aumentos nos níveis de preços de produtos, mercadorias e serviços. Os impactos disso já se fazem presentes no dia a dia e estão causando desconforto e desespero a várias pessoas. Os alimentos estão cada vez mais caros nos supermercados, o custo da gasolina se mostra elevado a cada mês nos postos de abastecimento, e isso tudo, por sua vez, tem pressionado os preços de diversos outros produtos de consumo das famílias.

No meio do fogo cruzado, desemprego em alta e orçamentos limitados, as pessoas recorrentemente se perguntam: por qual motivo os preços estão aumentando? Não estamos em um momento de retomada econômica? As condições financeiras das famílias não foram prejudicadas pela pandemia? As empresas não estão com níveis baixos de liquidez? A taxa básica de juros, a Selic, não se manteve em patamares baixos na tentativa de estimular o crédito para empresas? Os empreendimentos com dificuldades de produção estão aumentando os valores dos produtos, por quê? Por que motivos produtos duráveis, como os automóveis, por exemplo, registram recorrentes mudanças em suas tabelas de preços? Quais ocorrências na indústria estão impactando diretamente o bem-estar da família brasileira?

Em maio, a inflação ficou em 0,8%, o que representou para a economia brasileira uma oscilação de aproximadamente 8% nos níveis de preços dos últimos 12 meses. Os grandes propulsores desse aumento foram os setores de habitação e transporte, que, por sua vez, foram influenciados por duas commodities, a gasolina e a energia elétrica. Em relação aos alimentos, dados da Associação Brasileira da indústria de Alimentos (Abia) revelaram a ocorrência de uma grande oscilação nos preços, que pairava entre 20% e 100%. Essa movimentação foi observada entre abril do ano passado e o mesmo mês neste ano. O levantamento ainda apontou que alguns produtos comuns no dia a dia dos brasileiros, como açúcar, café, milho, arroz, leite, trigo e soja, apresentaram altas de 36% a 84%.

Todas essas elevações de preços têm deteriorado o bem-estar das famílias e causado muitos problemas. E a explicação para tudo isso é muito simples: as consequências do período de quarentena.

No Brasil, grande parcela do Produto Interno Bruto (PIB) – indicador responsável por quantificar os níveis de produção e crescimento da economia nacional – é amparada pelos setores de serviços, indústria e agronegócio. O último tem sido um relevante propulsor para o avanço econômico do país – situação bastante recorrente em nossa história – devido à grande riqueza e fertilidade de nossas terras e clima, além do intenso foco em investimento e produção do setor que, por muitos anos, fez com que a nação brasileira alcançasse um bom posicionamento mundial na exportação de commodities.

Quando o Banco Central decidiu aplicar a redução da taxa básica de juros como um remédio para combater os graves desdobramentos da quarentena e aquecer a economia, ele também deu origem a outros efeitos colaterais. A Selic baixa pode ser uma boa solução para impulsionar o aumento do consumo, incentivar a injeção de investimento direto na economia, estimular o surgimento de empresas, fomentar a concessão de empréstimos a empreendedores – para que os mesmos ampliem os seus negócios ou deem início a novos projetos – e incitar a manutenção e criação de vagas de emprego no setor privado.

No entanto, quando a taxa básica de juros foi reduzida a seu menor patamar da história, chegando a 2,25%, investidores estrangeiros, institucionais e até mesmo nacionais que aplicavam em títulos de dívida pública e privada aqui no país em momentos de taxas de juros altas passaram a vender os seus títulos. E, por consequência de um ambiente político conturbado, acompanhado por um alto endividamento público, baixa confiança nas instituições públicas e elevadas taxas tributárias, estes mesmos investidores também decidiram deixar o Brasil, trocando o real pelo dólar para empreender ou aplicando o capital em outra economia que representasse um risco/retorno melhor que o encontrado no mercado nacional. Essa fuga da moeda americana desvalorizou significativamente o real, fazendo com que a cotação do dólar alcançasse patamares superiores a R$ 5. 
Com o câmbio bastante alto, os produtores da indústria primária precisaram escolher entre abastecer o mercado interno ou maximizar a sua eficiência econômica por meio da exportação e venda para outras economias pautadas pelo dólar – uma vez que a moeda estrangeira estava valorizada. Estas atitudes acabaram encarecendo as commodities, principalmente as de alimento; consequentemente, prejudicaram o potencial financeiro das famílias brasileiras.

É importante informar que a política de preços da gasolina em nosso país é variável e diretamente correlacionada à cotação do petróleo mundial e ao dólar. Portando, enquanto a moeda americana estiver em altos patamares, o preço da gasolina também se mostrará elevado.

O minério de ferro, outra commodity essencial para a economia brasileira, também impactou profundamente o bem-estar do brasileiro. Antes da pandemia, ele estava sendo cotado em US$ 90 a US$ 100 a tonelada. Hoje, está em patamares superiores a US$ 200. As grandes mineradoras brasileiras se beneficiaram não somente da alta do minério e do dólar, mas ainda do estremecimento das relações entre a China e Austrália. Outras possíveis justificativas para o aumento do preço dessa commodity podem ser a elevação da demanda e o avanço da dificuldade em ofertar para o mercado. Assim, a lei da oferta e da procura entrou em ação e os preços subiram. Devido a isso, algumas peças do mercado automobilístico estão em falta, a produção de novos carros foi reduzida, as filas de espera cresceram significativamente, o mercado de seminovos lida com a ausência de estoque e os automóveis ficaram mais caros em geral.

Todos esses fatores reduziram o bem-estar de curto prazo do brasileiro e criaram uma dúvida: consumir no presente ou no futuro, quando tudo voltar ao normal? Há pouco tempo, o Banco Central aumentou a Selic em 0,75 ponto, indo para 4,50% ao ano. Pelo visto, o objetivo da autoridade monetária é voltar com a agenda de elevação da taxa de juros para controlar a alta do dólar, conter os níveis de preços e encontrar um equilíbrio que não anule o efeito do remédio utilizado contra a quarentena.

Rodrigo Alcântara é economista e assessor de investimento na Atrio Investimentos.

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