Real acumula desvalorização de 8% frente ao dólar.| Foto: Sebastião Moreira/EFE
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Em junho, o dólar já avança 2%, acumulando uma valorização de 10,4% contra o real em 2024. Este movimento de alta acende um alerta entre economistas e gestores financeiros, que não esperam uma melhora acentuada no curto prazo. O temor em relação aos mercados emergentes e a percepção de risco local levaram o câmbio doméstico a mais uma sessão de desvalorização firme. No pior momento das negociações, o dólar à vista chegou a se aproximar de R$5,39, com o possível acionamento de mecanismos de “stop loss”, que encerram operações após atingir determinadas perdas.

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A permanência do dólar na faixa entre R$ 5,35 e R$ 5,40 por mais tempo deve ampliar a pressão sobre os preços, dificultando a tarefa do Banco Central (BC) de trazer a inflação à meta e pressionando os juros de mercado. A manutenção da taxa de juros americana em patamares elevados é um dos fatores externos que contribuem para a valorização do dólar.

A volatilidade cambial e a alta dos preços continuarão sendo os principais obstáculos para o crescimento e estabilidade econômica do Brasil

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A expectativa inicial era que a taxa de juros caísse no primeiro semestre de 2024, ou na pior das hipóteses, no segundo semestre. No entanto, as taxas permanecem elevadas, entre 5% e 5,25%, tornando os títulos públicos americanos mais atrativos para os investidores.

Além disso, o real tende a se desvalorizar quando há um maior volume de importação, aumentando a demanda por dólares. Quando a moeda se valoriza, há um incentivo maior para a exportação brasileira. O Brasil, com seus principais produtos agrícolas, como carnes, vê um aumento nas exportações devido à desvalorização do real. Empresas como JBS, Marfrig e Minerva, maiores produtoras de carnes do mundo, preferem exportar a manter seus produtos no mercado interno. Isso resulta em menor oferta e aumento dos preços no mercado brasileiro, impulsionando a inflação.

Nos últimos meses, os alimentos têm sido o principal motivo da manutenção de uma inflação alta, contrariando as expectativas iniciais. Esse cenário mantém a taxa Selic elevada, desestimulando o crescimento e investimentos. Grandes empresas brasileiras, com capital aberto na B3, e multinacionais instaladas no Brasil, tendem a reduzir seus investimentos devido aos altos custos de financiamento.

Esse ambiente desafiador não só afeta as grandes corporações, mas também as pequenas e médias empresas que prestam serviços a elas. A redução do apetite por contratações pode resultar em aumento do desemprego, prejudicando ainda mais a economia. A expectativa de crescimento do PIB brasileiro para este ano e para 2025 é sombria, refletindo diretamente nos próximos anos.

A incerteza econômica global, principalmente a volatilidade do dólar e os impactos no real, causa desconfiança e prejuízos para qualquer nação, empresa ou governo. Nos próximos meses, essa volatilidade deve continuar impactando diretamente as decisões econômicas. Se a inflação americana aumentar, a taxa de juros pode subir ainda mais, dificultando a recuperação econômica no Brasil. Por outro lado, uma eventual queda na inflação e nos juros americanos pode atrair capital estrangeiro de volta ao Brasil, aliviando a pressão sobre a inflação e permitindo uma redução na Selic.

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Contudo, essas possíveis melhorias só devem ocorrer a partir do primeiro semestre de 2025. Até lá, o cenário econômico permanece incerto e desafiador. A volatilidade cambial e a alta dos preços continuarão sendo os principais obstáculos para o crescimento e estabilidade econômica do Brasil.

Johnny Mendes, professor da ESEG - Faculdade do Grupo Etapa e especialista em Economia.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]