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Alternativas para problemas educacionais

Sabendo que a miséria ou pobreza desassistida corresponde à raiz dos problemas sociais, somente pelo seu atendimento poder-se-á concretizar o ideal da educação, cujo alicerce será a multiplicação de escolas com atendimento às crianças desde o período maternal, objetivando dar total possibilidade de matrícula, enriquecendo-as através de recursos psicossociais modernos, extensivos à famílias (associações de pais ou clubes), tendo por prioridade o ajustamento profissional.

Esta seria a estratégia ideal para vencer a evasão escolar e o problema do menor abandonado. A multiplicação de escolas, devidamente equipadas, reais e não fantasiosas, corresponderia às luzes que aqueceriam e iluminariam as mentes e sociedades humanas.

É oportuno acrescentarmos que o trabalho para debelar o problema do menor tem sido realizado de maneira oposta ao que sugerimos, pois que somente após as crianças estarem soltas nas ruas, dominadas por excessiva agressividade e infração, pelo uso de bebida alcoólica e diversas drogas – ou seja, quando atingem a profundidade da decadência humana –, é que se pretende ingressá-las na aprendizagem, exigindo que as mesmas se portem como crianças normais, ou simplesmente tentando com muita dedicação, enfrentando decepções, ensinar-lhes o mínimo, que em outras circunstâncias, devidamente enriquecidas, ultrapassaria o imaginável.

Somente após as crianças estarem soltas nas ruas é que se pretende ingressá-las na aprendizagem

Mas como surgem essas crianças? Quais são as suas raízes? Segundo pesquisas, constatamos suas origens em diversas situações. A primeira é a de famílias excessivamente desorganizadas, sem condições de propiciar o tempo necessário à educação dos filhos. Na maioria das famílias, as relações são transitórias. A figura do pai ou é inexistente ou é quase sempre inconstante. É a mãe que contorna sozinha todos os problemas, como o uniforme ou vestuário, material escolar, acompanhamento à escola, alimentação, amizades, necessidades de lazer, cuidados com saúde.

Pais que se agridem mutuamente, física e verbalmente, envolvendo o ambiente com violência, também colaboram para esse quadro. São indivíduos que não cresceram emocionalmente, denotando descontrole emocional e imaturidade. Outro problema são os pais excessivamente tolerantes, com dificuldades para impor limites, tudo permitindo à criança.

Não se pode ignorar as imposições paternas: pais frustrados em suas vocações ou profissões tentam realizar-se através dos filhos, impondo-lhes determinadas ocupações, transformando-os em neuróticos. Em alguns casos, há os perfeccionismos paternos, a ideia de que os filhos devem ser perfeitos, ou melhor, devem ser autênticos bonecos, facilmente maleáveis, conforme conveniências dos pais, que para isso usam de todos os recursos, principalmente criticando-os, anulando suas personalidades. Também há as repressões paternas: a criança deve ter liberdade para expressar seus sentimentos quando sentir necessidade, chorando, cantando, sorrindo ou gritando. Aquela célebre expressão “homem não chora” deve ser eliminada definitivamente. Caso contrário, os sentimentos reprimidos serão transformados em cólera ou neurose.

A carência afetiva é oriunda do decréscimo nos cuidados e atenções paternas. Os pais devem compreender que a presença é uma deusa poderosa! Nada justifica a ausência dos mesmos. Babás, bons colégios, avós, tias ou madrinhas jamais substituirão os verdadeiros pais. Existe uma ligação biopsíquica entre pais e filhos que não deve ser atrofiada, mas desenvolvida, através da crescente participação mútua. Caso contrário, a humanidade se transformará em autênticas pedras, insensíveis aos problemas humanos. A ausência de apreciação, nesse contexto, é preocupante. Todo ser humano necessita de estímulo, de elogio sincero, a fim de alimentar o seu anseio de ser importante.

A deficiência ou ausência de recreação é uma situação grave. A vida familiar deve proporcionar uma constante festa à criança, através da alegria dos pais, traduzida em brincadeiras, músicas, danças etc. O choque entre gerações deriva dessa lacuna, porque os pais ficam ignorados em suas passividades silenciosas, e os filhos dominam o ambiente. Todos os recursos devem ser usados pelos pais, a fim de que suas personalidades sejam marcantes, como, por exemplo, executando determinados instrumentos, cantando, contando piadas ou dando sugestões.

Por fim, também a deficiência física – distúrbio glandular, estado infeccioso, doença mental ou defeitos físicos – deve ser devidamente considerada, a fim de aceitarmos a criança em sua integridade.

Tais situações analisadas, em lares ricos ou pobres, conduzem a traumatismos emocionais, refletidos em egocentrismos, alienações e revoltas. Nessas circunstâncias de ausência de atenção, consideração e amor, a criança, tentando proteger-se, procura livrar-se de todos que a fazem sofrer. Por outro lado, a pressão do grupo e o incentivo para que denote coragem a conduz à violência, ao uso de drogas e à sexualidade precoce desenfreada. A criança tenta fazer o que os outros fazem, buscando a aceitação do grupo ao qual pertence. E, consequentemente, o roubo, o assassinato, a gravidez precoce, recursos de sobrevivência ou vingança pelos pais, família ou sociedade, são passo rápido para a prisão. Não há perspectivas de futuro, e tudo se apresenta traiçoeiro.

A atividade plausível dos pais em semelhantes situações deve estar impregnada de reflexões, tranquilidade, diplomacia, amor, carinho, atenção, aceitação das diferenças de personalidades, apreciação sincera, ausência de brutalidade, bem como um esforço contínuo visando canalizar a energia da criança ou do jovem em esportes, trabalhos manuais, música. Sem imposições, aceitando as suas tendências, imprescindíveis ao ajustamento biopsicossocial do ser humano.

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