Geograficamente, a Amazônia assume forma continental capaz de englobar em seu território toda a Europa Ocidental. Seus mais de 7 milhões de km2 de florestas – 19 vezes o tamanho da Alemanha –, escondem matérias-primas que devem impulsionar positivamente a economia regional e do planeta. O rio Amazonas é o maior rio do mundo com 7.062 km. Nasce a 5.170m de altitude nos Andes peruanos e depois de passar por uma vasta planície, deságua no Oceano Atlântico, onde despeja um volume de 220.000 m3 por segundo de água doce (15,47% de toda a água doce descarregada nos oceanos por dia). Sozinho transporta mais água do que os rios Missouri, Mississipi, Nilo e Yangtzé juntos.
Por seu turno, a Pan-Amazônia, também denominada Amazônia Continental, Grande Amazônia, Amazônia Internacional ou Amazônia Sul-Americana compõe-se da totalidade da extensão geográfica dos países que dispõem de parte de seu território na região. Segundo dados da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) , em relatório elaborado em 2017, a floresta Pan-Amazônica ocupa 8.450.378 Km , abrangendo o território de 9 países (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela).
O desafio do desenvolvimento da Amazônia pressupõe implementar modelo que utilize o patrimônio natural sem destruí-lo, atribuindo valor econômico à floresta.
Dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) consideram “uma Amazônia quase mítica: um verde e vasto mundo de águas e florestas, onde as copas de árvores imensas escondem o úmido nascimento, reprodução e morte de mais de 1/3 das espécies que vivem sobre a Terra”. A região dispõe de um 1/3 do estoque genético planetário, 60.000 espécies de plantas (10% do total mundial), 2,5 milhões de artrópodes (insetos, aracnídeos, crustáceos etc.), 2.000 espécies de peixes (quantidade superior a encontrada em todo o Oceano Atlântico).
A região corresponde a 1/20 da superfície terrestre e 2/5 (40%) da América do Sul, 3/5 do Brasil; contém um quinto da disponibilidade mundial de água doce e um terço das florestas mundiais latifoliadas, mas somente 3,5 milésimos da população planetária. Por esses dados, cientistas a consideram o coração ecológico do planeta, o heartland. Dados consolidados por respeitáveis instituições de pesquisa são unânimes em acreditar que os mais de 7 milhões de Km2 escondem espécies vivas, que poderão se transformar no próximo “Vale do Silício” da bioeconomia.
Em qualquer das alternativas que se pense o desenvolvimento da Amazônia brasileira, além dos aspectos socioculturais e econômicos, sobressai-se a premência de promover ações para a difusão de conhecimentos de forma integrada ao conjunto da Pan-Amazônia, a Amazônia sul-americana. A complexidade da empreitada, todavia, é agravada pelo distanciamento político estabelecido entre os diversos países integrantes do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA), de 1978. Por essa razão, o nível de diálogo e cooperação técnica e diplomática é tênue, pobre, distanciado e ineficaz.
Difícil de crer, porém, que os diversos órgãos de ensino e pesquisa da região, como o Instituto SINCHI, a Universidad Nacional de Colombia, Sede Amazonia (Letícia), o Instituto de Investigación de la Amazonía Peruana (IIAP), o Instituto de Pesquisas da Amazônia (INPA), o CBA, o Museu Goeldi, a Universidad Nacional del Perú, junto com a Universidad Central del Ecuador mantenham-se cooperativamente desconectados.
Há de se levar em conta necessariamente que, segundo a geógrafa Bertha Becker, o desafio do desenvolvimento da Amazônia pressupõe implementar modelo que utilize o patrimônio natural sem destruí-lo, atribuindo valor econômico à floresta. Observando-se, a propósito, que o Brasil, no século XX, viveu quatro importantes revoluções tecnológicas, a criação da Petrobrás, em 1953; da Embraer, em 1969; da Embrapa, 1973, e a instituição do Proálcool, em 1975. Segundo Becker, a quinta revolução tecnológica brasileira deve ser a da Amazônia.
O vetor central de sustentação dessa revolução haverá de estribar-se na promoção do uso do fator biodiversidade como elemento estratégico de desenvolvimento regional com fortes e irreversíveis impactos sobre a economia brasileira. O Brasil vem perdendo tempo em não dar a devida atenção a esse colossal e desafiante bioma.
Osiris M. Araújo da Silva, economista, consultor de empresas, colunista econômico e escritor, é membro da Associação Comercial do Amazonas (ACA).