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 | Jonathan Campos
/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos /Gazeta do Povo

Quando, há mais de quatro décadas, iniciei atividades ambientais consideradas pioneiras, à sombra de pessoas como João José Bigarella e outros com quem concordava ou discordava, considerei as dificuldades de entendimento à época serem uma fase do processo natural de evolução, que de fato acontece em todo o planeta e que seguiria a passos largos na direção de evoluirmos com a educação, conhecimento e experiência, mas o Brasil infelizmente se mantém ancorado sobre falsos dogmas, ideologias ou o medo de querer fazer.

Talvez o medo de querer fazer seja o maior problema, pois não depende de outros elementos que não sejam nossa própria vontade e certa ousadia. E isso tem um custo. Quando, com 19 anos, apresentei as teorias da conservação florestal ao setor florestal, meu avô me disse que todos gostaram, mas que me acharam um bom menino sonhador. Mesmo assim materializei sonhos que hoje são atitudes normais na sociedade, e meus sonhos mudaram, pois não podemos mais viver a dicotomia do sim e do não, sem dar à sociedade soluções para as imensas consequências que o meio ambiente nos impõe nestas decisões ou pela omissão.

Das mudas de araucária – mais de 1 milhão – que distribuía nas ruas no início da década de 80, algumas viraram árvores adultas sob a sombra da garantia legal de uso ou corte se necessário, pois compõem a dinâmica que está na capacidade de repor, salvo raras exceções. O que vemos são milhares de pessoas que acreditaram nisso, tendo um problema ao não conseguir o “sim” para necessários cortes de condução ou segurança dessas mudinhas plantadas e hoje grandes árvores, involuindo o processo.

Em 1988 propus a primeira terceirização da gestão de parques nacionais, e fui atacado como se quisesse entregar os bens públicos, quando hoje essa terceirização garante o sucesso do Parque Nacional do Iguaçu ou do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha – este último, que eu criei e vejo hoje sendo viabilizado com sua gestão terceirizada. Mesmo assim o “não” ou a dúvida continuam a atrasar a mesma possibilidade na maioria dos parques estaduais – sem falar dos municipais.

O licenciamento ambiental virou balcão de negócio e corrupção, jogo de poder

Criei 12 parques nacionais e reservas, e por iniciativa própria três no Paraná (Superagui, Saint Hilaire/Langue e o Marinho da Ilha dos Currais), como política de conservação e indução ao desenvolvimento de práticas como o turismo. Superagui já faz 27 anos e Currais, três; estão iguais, com toda a pressão de uns poucos para que ninguém use, ou discutindo modelos mais que conhecidos. Eles precisam de um “sim” à inteligência, de um sim a riscos aceitáveis e de um pouco de ousadia para garantir a razão de sua existência. São parques, não estações ecológicas ou reservas intocáveis.

O manejo para o rendimento sustentado – mais que conhecido em todo planeta, que com a floresta de araucárias me garantiu o Prêmio Nacional de Ecologia em 1987 – se transformou em uma guerra de desconhecimento na qual todos sabem ter transformado tão bela espécie e de fácil manejo em uma árvore maldita no meio rural pelo “não” ao que todos os estudos indicam como sendo o “sim”, ou seja, a necessidade de seu manejo racional (nem próximo do desmatamento). Todos sabem – até os que são contra –, e o tempo só piora.

O licenciamento ambiental, que é instrumento de gestão e indução ao desenvolvimento sustentável, virou balcão de negócio e corrupção, jogo de poder, no qual se anuncia em festas políticas a emissão de uma licença, como se o alvará de uma loja ou restaurante devesse ser dado em solenidades, e não no processo ágil, eficiente e de fomento ao bom empreendedor.

Hidrelétricas com outorgas de 30 ou 50 anos, como Itaipu, recebem licença de operação para cinco anos não por lei, mas por decisão de regulamentos frágeis, tirando segurança jurídica dos empreendimentos, que se algo errado fizerem podem ter a ação imediata dos órgão ambientais ou do próprio Ministério Público, em que o processo de renovação em tão pequeno espaço de tempo só gera custos e outras distorções.

As cidades modernas, o smart grid, as ecocities visam a integração de tecnologias não só para diminuição de custos, mas por eficiência, racionalização do uso energético, integração de matrizes como o gás natural, solar, eólica, melhoria da segurança na iluminação pública, racionalização nas medições integradas, entre tantos benefícios conhecidos, e o que temos de fazer é simples: fazer. Lógico que com todo o cuidado de viabilidade, PPPs, prioridades, e toda gestão pública ou privada, mas adiar é perder o tempo na história e na qualidade de vida de nosso povo.

Não é verdade que animais silvestres não habitam novamente as cidades por terem sido expulsos do meio rural, mas sim porque foram protegidos; as cetras diminuíram, populações de guarás, colhereiros, papagaios e micos voltaram com os curiós e bicos de lacre, e esta convivência maravilhosa precisa do “sim” do controle de zoonoses, de cuidados a animais feridos e doentes, de orientação para convívio; de forma otimista e de júbilo a uma vitória do esforço de conservação da sociedade.

De certa forma, passamos a ver de maneira holística a ambiência com todo o seu impacto socioeconômico com grande evolução do sistema e da ciência. Quando não usamos isso a nosso favor, emburrecemos na burocracia enquanto estados avançados perdem sua liderança e passam a ser mero discurso frente ao atraso que estamos impondo tanto no meio rural como urbano.

O conflito entre a redoma de vidro protetiva ou o uso indiscriminado já foi uma página necessária de nossa história há mais de 30 anos, e se prolonga por poucos que ainda creem no imobilismo ou no utilitarismo extremo – ambos destruidores –, e cabe a todos, público e privado, decidir e avançar no muito que já foi feito, no muito que deixamos de fazer e em toda nossa esperança. Não haverá qualidade de vida das gerações futuras sem a geração presente.

Luciano Pizzatto, engenheiro florestal e especialista em Direito Socioambiental, é empresário e político.
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