"É preciso que o governo tome vergonha na cara". Vi essa frase estampada em pelo menos meia dúzia de jornais depois do acidente com o Airbus da TAM, há dez dias, e acho que ela resume, de forma simples e objetiva, a origem da maioria dos problemas não somente em relação ao chamado "caos aéreo", mas sobre toda a administração pública. E há razões de sobra para comentários dessa ordem. Afinal, eleição após eleição os políticos têm sido eleitos com promessas de melhorar o país, mas, na verdade, só fazem é piorar a situação, seja por simples incompetência, seja por desonestidade muitas vezes por ambas as razões.
Não é por outro motivo que os nossos legisladores passam mais tempo ocupados em CPIs, investigando seus pares, do que criando leis e ações para tirar o nosso país da Idade da Pedra.
Por que, pergunto eu, países como Canadá e Estados Unidos, que têm a mesma idade que nós e uma história muito semelhante até a época da colonização, se tornaram tão desenvolvidos enquanto nós ainda "dormimos em berço esplêndido" e continuamos a perder todos os bondes da história? O mesmo ocorre quando nos comparamos a qualquer outro país desenvolvido e até mesmo aos ditos "emergentes". Aliás, conforme recentes notícias, em termos de desenvolvimento só ganhamos do Haiti.
Parafraseando um conhecido âncora do jornalismo brasileiro: Isso é uma vergonha!
Dessa forma, pouco adiantar sugerir mudanças apenas na infra-estrutura aérea se qualquer ação nesse sentido depende fundamentalmente da infra-estrutura do próprio governo. Se existe um "caos aéreo", ele é resultado do caos político-administrativo que impera em nosso país desde os tempos do descobrimento. É uma simples questão de causa e efeito. Tentar combater os efeitos sem eliminar as causas é tão ineficaz e perigoso quanto tomar morfina para curar apendicite.
Embora esse assunto seja muito complexo, vamos tentar tratá-lo, aqui, de forma resumida. Primeiro: como já foi dito, a raiz do problema aéreo está na própria estrutura do governo, a começar pelo fato de os cargos públicos terem ocupação política em vez de técnica. A solução para isso seria trocar a política pela eficiência. O raciocínio é simples e direto: Você deixaria sua empresa nas mãos dos políticos que aí estão ou contrataria profissionais competentes e honestos para administrá-la? O mesmo princípio é válido para a administrar nosso país e nossa aviação. É preciso uma profunda mudança administrativa ou o país todo vai descer pelo ralo. Segundo: é necessário fazer um levantamento da real situação da estrutura viária no país. Não apenas a "aeroviária", mas todos os demais meios de transportes, pois todos são fundamentais para o desenvolvimento do país (além de se completarem mutuamente no que chamamos de "logística intermodal") e todos estão igualmente sucatados. Uma vez identificados os problemas, e tendo-se pessoas realmente competentes para corrigi-los, bastaria passar à prática.
Parece simples e, em essência, realmente é. Basta fazer como nos países avançados, onde o desenvolvimento é resultado de ações concretas e não de mera propaganda. Aliás, eles não agem assim porque são desenvolvidos. Eles são desenvolvidos porque agem dessa forma.
Lauro Ney Batista, 45 anos, é desenhista industrial e projetista aeronáutico, empresário do setor aeroespacial e coordenador da Comissão Empresarial para o Desenvolvimento Aeroespacial (Cedaer), em São José dos Campos-SP.