| Foto: Alexandre Mazzo/Gazeta do Povo

Em 2005, o Brasil foi apresentado a um esquema de corrupção sem precedentes: o mensalão, comandado de dentro do Palácio do Planalto, que envergonhou a classe política e deixou atônita a população. Do episódio resultou como saldo meia dúzia de presos e um herói, Joaquim Barbosa, então presidente do STF, logo esquecido. Apesar do episódio, reelegemos o chefão do esquema, Lula, para um segundo mandato, com honras de herói e estadista. Em outubro de 2010, a população brasileira premia novamente o Partido do Mensalão elegendo a inexpressiva Dilma Rousseff, olvidando todas as evidências de corrupção e absoluta incompetência do governo Luiz Inácio Lula da Silva. Dilma seria reeleita para novo mandato em 2014.

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Nesse período, a Lava Jato mostrou aos brasileiros que o mensalão não só não acabara, mas cresceu em proporções geométricas envolvendo funcionários de estatais, partidos políticos e empresários, alcançando cifras inimagináveis. Um novo herói emergiu – e com todos os méritos: o juiz paranaense Sergio Moro, coadjuvado por procuradores da força-tarefa.

Michel Temer assume a Presidência com o país envolto na maior crise econômica de sua história, com 14 milhões de desempregados. O salve-se quem puder da Lava Jato, com as delações da JBS e de Lúcio Funaro, colocaram em xeque a PGR, o STF, a Presidência da República e o Congresso Nacional. Vieram os episódios da mala do assessor da Presidência e os inacreditáveis R$ 51 milhões no apartamento do ex-ministro Geddel Vieira Lima. A percepção, por parte dos brasileiros, de que manobras legais, porém de moralidade duvidosa, têm sido utilizadas para salvar a pele de políticos corruptos só vem agravar este quadro.

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Nesse ambiente, viceja certa desesperança com os rumos do país, com a percepção da população de que tudo está perdido, de que as grandes mobilizações pelo impeachment deram em nada, de que todos os políticos são corruptos e que o sistema está apodrecido, fazendo prosperar discursos alarmistas com soluções heterodoxas.

A saída aos impasses está em nossas mãos, literalmente diante da urna eletrônica

O bom desempenho da economia no governo Temer e as medidas saneadoras após a desastrosa gestão petista não são suficientes para restabelecer a confiança da população em um governo, com alguns membros envolvidos em graves acusações.

Assim, ganham importância o crescimento eleitoral de figuras controvertidas como Jair Bolsonaro, capitão da reserva, com seu discurso agressivo, raso e de tom populista, e as polêmicas declarações do general Mourão sobre eventual intervenção das Forças Armadas na hipótese de caos institucional. No caso do general, é preciso analisar a fala com algum distanciamento. O fato de um militar de alta patente ter se manifestado naquele tom deve, na verdade, servir como alerta para que as instituições sejam rigorosas no cumprimento de seu papel e que não se abram brechas a soluções que não se coadunem com o regime de plena democracia.

É evidente que o atual modelo político não se sustenta mais como garantidor de uma democracia moderna e transparente. O chamado “presidencialismo de coalizão” apoia-se precariamente na profusão de partidos que vemos hoje, em sua maioria agremiações desprovidas de princípios doutrinários, configurando um ambiente de grandes dificuldades para os arranjos político-institucionais. Os partidos deveriam ser os garantidores da intermediação entre os interesses da sociedade e o Estado, mas o que o cenário mostra é um fisiologismo escancarado.

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Do mesmo autor:Os altos salários nas ilhas da fantasia (7 de setembro de 2017)

Infelizmente, o Congresso acaba de perder oportunidade histórica de promover uma reforma política mais profunda. A proposta inicial foi seriamente desidratada, resultando na aprovação do necessário fim das coligações proporcionais, mas que valerá só a partir de 2020; e em uma tímida cláusula de desempenho, dando sobrevida a partidos de ocasião que são verdadeiros balcões de negócios.

Mas, mesmo reconhecendo a gravidade da situação, não podemos permitir que discursos catastrofistas proliferem, pois estamos longe da beira do abismo. Caos é o que se passa, por exemplo, na Venezuela, onde a experiência populista/socialista de Chávez e Maduro foi levada ao extremo, conduzindo o país ao desastre econômico e institucional. Lá, sim, o perigoso passo rumo ao precipício foi dado, mas no Brasil o sistema democrático é robusto e as instituições estão em pleno funcionamento, em que pese decisões controversas que estarrecem a sociedade.

Neste momento de desalento, há de se fazer um esforço para enxergar que o país não está parado; que avanços foram alcançados; que já atingimos o fundo do poço da crise econômica e que daqui para a frente só se falará em volta do crescimento e do emprego; que algumas reformas podem atrasar, mas que virão sem dúvida alguma, porque são demandas da sociedade e não dos partidos no poder. Vamos também tentar separar o joio do trigo: nem todo político é corrupto, nem todo político mente. Se o sistema está contaminado, é possível depurá-lo e distinguir os bons dos maus.

Leia também:O general e a “intervenção” (editorial de 22 de setembro de 2017)

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2018 está logo aí, oportunidade de dar um basta àqueles que se elegem para contaminar a política com as piores práticas. A saída aos impasses está em nossas mãos, literalmente diante da urna eletrônica. Trata-se de um dilema, mas a solução para nossos males passa pela própria política tão execrada. É no processo democrático que exercemos a vigilância da coisa pública e só assim poderemos pôr fim à corrupção desenfreada e aos privilégios das castas instaladas no Estado brasileiro.

A um ano das próximas eleições, precisamos como nunca da classe política, de políticos honestos, experientes, com conteúdo e eficiência comprovada, que existem e estão por aí. Eles precisam do apoio dos brasileiros de visão. A alternativa é lutar pela solução democrática, respeitar a Constituição e as leis, única forma de alcançar o objetivo comum de todos os homens de bem, que é o crescimento da nação e o bem-estar do povo brasileiro.

Edson José Ramon, empresário, é presidente do Instituto Democracia e Liberdade (IDL) e ex-presidente da Associação Comercial do Paraná (ACP).