“Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar”
A manifestação do dia 15 de março de 2015 foi a manifestação dos “apesares”. Apesar de a propaganda petista tentar rotulá-la de golpista, o povo brasileiro foi às ruas em nome da república. Apesar da chuva em algumas cidades, famílias inteiras saíram de casa para manifestar sua indignação. Apesar de a esquerda manter durante anos o monopólio das ruas, milhões de pessoas lotaram as vias públicas do país para confrontar o governo, sem receber nem um centavo para isso. Apesar de possuir tudo, o Partido dos Trabalhadores percebeu que já não é mais nada.
É difícil compreender o que o dia 15 significará para a história, posto que ainda estamos no olho do furacão e qualquer julgamento definitivo esbarraria em nossos anseios e vontades. Apesar disso, sabemos o que ele significou para a população: um ato de bravura e independência em defesa da república brasileira. As ruas pediram mais justiça e menos advogados partidarizados, mais república e menos totalitarismo, mais Brasil e menos Brasília. A manifestação fez os alicerces do Palácio do Planalto tremerem como nunca antes.
Apesar disso, o governo fingiu não sentir vibração alguma. Colocou as mãos nos ouvidos como uma criança mimada e esperneou, teimosamente, insistindo na mentira de que o povo pedia reforma política, de que o povo pedia ações governamentais. A negação da realidade, comum entre loucos e infantes, passou a ser o discurso uníssono dos dirigentes do país, e reverberava nas trombetas dos blogueiros chapa-branca a mensagem oficial: Dilma haveria de conduzir as massas em uma cruzada contra a corrupção! Vida longa à nossa rainha!
É difícil compreender o que o dia 15 significará para a história, posto que ainda estamos no olho do furacão e qualquer julgamento definitivo esbarraria em nossos anseios e vontades
O estado geral de insanidade do governo termina coroado pela ação política do homem mais poderoso da nação no momento, o deputado Eduardo Cunha. Aproveitando-se da inanição de uma oposição covarde e desorientada, valeu-se dos gritos de “fora Dilma!” do dia 15 e tomou para si o capital político conferido pelas ruas. Tratou de colocar o governo federal contra o córner e firmou-se como o primeiro-ministro de facto da república. Herdeiro ilegítimo do clamor popular, será alvo de intensa pressão neste dia 12 de abril. Os pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff, se ignorados novamente, passarão a minar seu exótico projeto de poder. A se observar.
Apesar de Cunha, porém, o saldo continua extremamente positivo. Irmanados na indignação, brasileiros vestidos de verde e amarelo fizeram uso de cornetas e vuvuzelas que permaneceram caladas durante a já esquecida “Copa das Copas”. Num fenômeno único em nossa história, milhões se mobilizaram em todos os estados da federação sem o incentivo e o patrocínio de quaisquer lideranças político-partidárias. Na era das celebridades instantâneas, imperou o anonimato – uma trágica ironia para um governo em busca de espantalhos para combater. É um novo momento, em que a oposição se dá nas ruas e a classe política, seja situação, seja oposição, permanece passageira de um fenômeno que não consegue compreender.
Apesar do PT, amanhã há de ser outro dia. Dilma vai ter de ver a manhã renascer e esbanjar poesia. Como vai se explicar, vendo o céu clarear, de repente, impunemente? Como vai abafar nosso coro a cantar na sua frente, em todas as ruas do país: “Fora PT, impeachment já!”?
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