Cabe a cada brasileiro ponderar e reivindicar o ajuste das tabelas do IR no ano que vem, pois a falta de correção, como demonstra pretender a Receita Federal, equivale a um maior impacto no bolso do contribuinte
A Receita Federal divulgou as regras para a declaração de Imposto de Renda de pessoa física do ano-base 2010 e mostrou que, mais uma vez, o "leão" está faminto. A expectativa do órgão arrecadador do governo federal é de que 24 milhões de brasileiros tenham de fazer a declaração de ajuste tributário no ano que vem, o que equivale a 500 mil contribuintes a mais em relação aos 23,5 milhões de declarantes de 2009.
Apesar de ter corrigido a tabela de isenção do IRPF, ao elevar o limite mínimo de renda para declarar dos R$ 17.215,08 relativos ao ano-base 2009 para os atuais R$ 22.487,25 de 2010, o órgão já indicou que não deve haver nova correção de tabela a partir de 2011. É que depois das correções anuais de 4,5% nos quatro últimos anos, a lei que estabeleceu a regra, e que foi criada a partir de acordo firmado com sindicalistas, perde a validade no ano que vem.
É notório que as tabelas de valores do Imposto de Renda seguem defasadas, apesar das correções dos últimos quatro anos. Segundo o Sindifisco (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), a tabela do IRPF possui uma defasagem de 64,1% entre 1995 e 2010 devido a perdas impostas pela inflação do período.
Sem a correção dos valores, as pessoas acabam pagando mais Imposto de Renda, já que, em geral, seus rendimentos tendem a ser reajustados ao longo do ano. Em alguns casos, os contribuintes isentos de declaração em um ano passam a ter seu rendimento tributado no ano seguinte devido à falta de correção da tabela. Outros veem seus rendimentos passarem a ser tributados em uma faixa superior de tributação.
Cabe a cada brasileiro ponderar e, eventualmente, reivindicar o ajuste das tabelas do IRPF no ano que vem, pois a falta de correção, como demonstra pretender a Receita Federal, equivale a um maior impacto no bolso do contribuinte.
A declaração de IRPF 2010/2011 traz ainda mais algumas novidades. Por exemplo, o antigo formulário de declaração em papel foi abolido. As declarações a serem entregues entre 1.º de março e 29 de abril de 2011 serão todas em formato eletrônico, entregues pela internet ou por disquete. Além disso, a Receita Federal vai aceitar que casais homossexuais em união estável possam fazer a declaração conjunta de bens ou realizar a inclusão de um dos cônjuges como dependente no documento de ajuste.
Os contribuintes devem ficar atentos para não cometer erros na declaração de Imposto de Renda 2010/2011. Para evitar problemas, é importante guardar os comprovantes de renda, de aquisição de bens, de movimentação financeira e de doações para partidos políticos, programas de incentivo fiscal ou entidades sociais. É preciso se informar e conhecer bem as instruções da Receita Federal. Caso encontre dificuldades no preenchimento da declaração, o contribuinte deve procurar apoio, seja de profissionais capacitados ou de instituições de ensino superior e empresas de consultoria, que muitas vezes prestam esses serviços gratuitamente.
Lúcio Abrahão, advogado tributarista, é sócio-diretor da BDO no Brasil, quinta maior rede do mundo em auditoria, tributos e advisory services.