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Apostas, futebol e o crime: uma equação difícil de resolver
| Foto: Unsplash

Notícias de corrupção no futebol não são raras. Recentemente, vimos o lamentável caso de jogadores que, supostamente, estariam envolvidos em um esquema ilegal de manipulação de resultados em partidas de futebol. Pelo menos 15 jogadores foram listados como participantes do esquema que, dizem as notícias, poderiam envolver pagamentos de até R$ 100 mil a um jogador para que se "autossabotasse", cometendo faltas ou ganhando cartões.

O fenômeno não é exclusivo do Brasil, nem do futebol: no Japão, de vez em quando, há lutadores de sumô banidos pelos mesmos motivos. Casos similares já foram notícia no futebol italiano há alguns anos. O leitor que conhece filmes ou seriados norte-americanos, aliás, já deve ter assistido a diversas aventuras de policiais e detetives combatendo mafiosos que manipulam lutas de boxe e a série Bad Sports que avalia os escândalos e controvérsias da história do esporte (basquete universitário americano, Olimpíada de inverno de Salt Lake City, corridas de cavalo, combinação de resultados no cricket na África do Sul etc.).

Jogadores de baixa performance teriam maior probabilidade de aceitar a proposta de se sabotar para gerar o resultado esperado pelos seus financiadores.

Manipulações de resultados em jogos são, por assim dizer, um tema recorrente e universal e, portanto, é natural que se pergunte sobre quais seriam as estratégias mais eficazes no combate a esse tipo de crime. Recursos para investigações envolvem alocação do tempo de gestores públicos (seja em operações policiais ou em seu planejamento), para não falar do orçamento que nem sempre é generoso.

A Ciência Econômica é aquela que estuda a alocação de recursos escassos e o problema de se coibir o comportamento criminoso faz parte da caixa de ferramentas da Ciência Econômica. No caso específico da manipulação de resultados no futebol e outros esportes, envolve a interseção de duas agendas de pesquisa: a Economia do Crime e a Economia dos Esportes. Ambas, em essência, tratam do papel dos incentivos sobre a ação dos indivíduos e incentivos mal desenhados não impedem o crime ou o cometimento de penalidades, no caso dos esportes. O que sabemos sobre o desenho dos incentivos neste caso?

Em recente número do Journal of Sports Economics, Thomas Giel e coautores publicaram um estudo sobre o tema. Por meio de um experimento de laboratório com 310 participantes, foram testadas algumas hipóteses relativas a quais fatores que são, de fato, importantes para coibir o comportamento de jogadores que se envolvem em esquemas de manipulação de resultados, seja no futebol ou qualquer outra modalidade esportiva.

Um dos resultados do experimento é que jogadores de baixa performance teriam maior probabilidade de aceitar a proposta de se sabotar para gerar o resultado esperado pelos seus financiadores. Além dists, percebe-se que um aumento na probabilidade de detecção do comportamento criminoso tem maior impacto sobre o potencial criminoso do que uma punição em termos monetários (como multas).

Qual o significado prático deste "aumento na probabilidade de detecção"? Os autores sugerem três medidas práticas: melhorar a transparência via criação de um canal de denúncias (como os canais de denúncias anônimas) e reforçar a vigilância. Obviamente, o grau de empenho das autoridades na mitigação desse tipo de comportamento deveria ser proporcional à importância econômica do setor. Além disso, a introdução de incentivos específicos de desempenho relativo, reduzindo a variabilidade no esforço dos atletas.

No caso do Brasil, um estudo da consultoria EY feito para a CBF indicava que o futebol representaria aproximadamente 0.72% do PIB. Supondo-se que este percentual não tenha se alterado muito (a medição diz respeito ao ano de 2018), pode-se dizer que o peso econômico do futebol seria similar ao do Piauí (cerca de 0.74% do PIB de 2022 ou seja, R$ 56 milhões). Sem dúvida, vale a pena evitar que o crime domine o futebol.

Claudio Shikida é professor do curso de Ciências Econômicas do Ibmec-BH; Ari Francisco de Araujo Jr. é coordenador do curso de Ciências Econômicas do Ibmec-BH.

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