Raciocinar exige esforço. "Pensar dói" declama Brecht. Não importa a área, sempre encanta uma apresentação oral ou escrita com bom encadeamento lógico. Temos uma geração com preguiça de pensar. Entretanto, nunca se valorizou tanto a pessoa ou o profissional com boa capacidade de raciocínio, enfim, o resolvedor de problemas. Hoje o jovem aprende rápido e esquece rápido, não mergulha fundo e, assim, o aprendizado é fugaz ou fruto de um clique.
Uma das mais profícuas maneiras para desenvolver o pensamento lógico e o poder de síntese, é a dedicação às disciplinas da área de Exatas ou a um texto com dificuldade média ou elevada. Mas isso requer muita organização pessoal. Só se aprende a raciocinar com o cérebro e com as nádegas. Ou seja, galhofa à parte, aluno sentado numa cadeira, uma mesa com folhas de rascunhos, para resolver exercícios ou resenhar a matéria, estudo diário, um ambiente silente e prioritariamente muita disposição para o aprendizado.
Um texto profundo ou exercício mais complexo é um desafio e faz bem aos neurônios. Há muito mais sinapses em 15 minutos dedicados a um problema difícil, mesmo não resolvido, do que na solução de três outros exercícios bastante acessíveis. Sendo uma atividade solitária, o aluno brasileiro não é atraído, pois culturalmente é pouco valorizada, quando não motivo de pilhérias ou bullying. "Não menospreze os nerds da sua escola. Você ainda irá trabalhar para um deles" aconselha Bill Gates, que juntamente com Steve Jobs foram proeminentes nas disciplinas de Ciências Exatas.
Desenvolver na criança e no adolescente a inteligência lógica-matemática, uma das nove inteligências de Gardner, é das incumbências mais relevantes dos professores e dos pais. No Brasil, não temos uma cultura de valorização das Ciências Exatas e as estatísticas corroboram essa assertiva: apenas 11% dos concluintes do ensino médio em escolas públicas têm capacidade tida internacionalmente como mínima em Matemática. Com os avanços tecnológicos, inovações e registro de patentes, há uma valorização inédita em pesquisas. E aqui também perdemos de goleada: um pesquisador para cada mil pessoas ocupadas; nos EUA, são 9,5; na Coreia do Sul,11. É imperiosa a necessidade de mais formação técnica para amainar os gargalos da nossa precária infraestrutura. O México forma 114 mil engenheiros por ano; e o Brasil, com quase o dobro da população mexicana, forma 41 mil, metade do necessário.
De todas as ciências, a Matemática é serva e rainha. Serva, pois não há ciência sem o rigor de seus fundamentos, e rainha, pois sua majestade enseja o apanágio da lógica e da estética, numa linguagem precisa, universal e sincopada. É bem verdade que também é considerada uma ciência abstrata, provocadora das maiores humilhações. Em resumo, é têmpera racional da mente ou bicho-papão. É paraíso ou inferno, que não contempla purgatório, nem indiferença.
O paradoxo é que os cientistas estão desenvolvendo tanto os computadores, que eles ainda nos ensinarão a pensar. Blague à parte, o desenvolvimento tecnológico exige cada vez mais elevado tirocínio mental e autodidatismo para o entendimento de textos ou elaboração de algoritmos sem um professor para auxiliar. É o raciocínio lógico, que promove a autoconfiança para descobrir e pesquisar outros temas da vida prática e das ciências.
Jacir J. Venturi, engenheiro, professor e presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR).
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