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 | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Nos últimos meses, diante de uma crise econômica cada vez mais aguda, temos visto uma verdadeira cruzada contra o investimento público em eventos culturais, especialmente o carnaval. Em Curitiba, o discurso da economia de recursos públicos se soma a uma ideia, ainda difundida, de que nossa cidade é “de origem europeia” e, por isso, o carnaval não seria uma festa da nossa cultura. A esses dois argumentos somou-se o de que o desfile de carnaval seria uma festa de inspiração fascista, em artigo recentemente publicado na Gazeta do Povo. Tais argumentos, no entanto, são insustentáveis.

A ideia da economia de recursos é falsa. Isso porque o gasto com carnaval é ínfimo perto dos gastos com dívidas públicas nunca auditadas, com os benefícios a setores empresariais como as empresas de transporte, e também porque o carnaval tem muito potencial para girar a economia. O leitor já imaginou quantas pessoas trabalham no carnaval no Brasil inteiro? É preciso dizer também que o direito ao lazer e a cultura está em nossa Constituição. Ou seja, o Estado deve ter políticas públicas de cultura e lazer.

O desfile de escolas de samba não foi inventado por nenhum governo

A ideia de uma Curitiba europeia também não se sustenta. Basta olharmos o censo do IBGE ou caminharmos pela cidade, especialmente nos setores mais afastados do Centro. E, mesmo que fôssemos uma cidade formada por 100% de população europeia, o argumento anticarnaval também não seria válido. Basta observamos que várias cidades da Europa têm grandes festas de carnaval e que essa influência foi decisiva inclusive para os desfiles das escolas de samba brasileiras.

Diante da necessidade de mudar o disco, eis que temos o artigo de Jones Rossi, associando o desfile de carnaval ao fascismo. É importante reconhecer que o texto tem um certo refinamento e conhecimento histórico para construir seu argumento. Mas esse refinamento é utilizado apenas para demonstrar seu elitismo e causar confusão. Elitismo porque o autor reconhece que foi um erro cancelar a Oficina de Música. E, sabemos, tal Oficina conta com uma fase erudita, atrai turistas de fora e é frequentada majoritariamente por moradores do Centro da cidade e de seus arredores. Neste tipo de cultura a prefeitura poderia, segundo Rossi, investir dinheiro público (registre-se: sou contra o cancelamento da Oficina da Música e a favor do investimento em todas as formas de cultura).

E o artigo é causador de confusão pois mistura fatos históricos buscando comprovar uma suposta origem fascista do carnaval. Aqui, é importante dizer que o desfile de escolas de samba não foi inventado por nenhum governo – os primeiros desfiles foram promovidos pelo jornal Mundo Sportivo – e que a exigência de temas nacionais nos desfiles não foi obra de Getúlio Vargas, visto que o primeiro regulamento que apontava isso é de 1947, quando Vargas estava tranquilo em seu sítio no Rio Grande do Sul. Além disso, reconhecer os desfiles como algo de inspiração fascista por causa de uma manipulação getulista seria ignorar os agentes da festa (sambistas e foliões), que muitas vezes procuraram reconhecimento e aproximação do poder público, muito antes de os agentes públicos pensarem em se apropriar da festa.

A cultura e o carnaval precisam de apoio do poder público, especialmente nestes momentos de crise, em que nossas condições de vida estão cada vez mais degradadas.

Bernardo Pilotto é sociólogo e mestre em Saúde Coletiva.
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