Não é de hoje que essa discussão existe. As crianças devem ou não utilizar tais tipos de brinquedo? Eu, honestamente, não vejo qualquer problema. Fui criado cercado por pistolas que atiravam flechas e revólveres de bangue-bangue que utilizavam espoletas – praticamente toda a geração dos anos 70, 80 e 90 cresceu assim. Meus filhos estão crescendo assim. Há algum indício, mesmo que mínimo, de que tais crianças se tornaram, na vida adulta, mais violentas ou propensas à criminalidade? Não, não há. Seja como for, os únicos que devem definir isso são os pais e responsáveis. Conheço amigos que não dão esse tipo de brinquedo para seus filhos e respeito isso totalmente – embora, mais uma vez diga, discorde.

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O grande problema é quando um assunto predominantemente particular, de foro absolutamente íntimo de uma família, começa a ser decidido pelo Estado, por pessoas que, eleitas para nos representarem, se acham imbuídas de algum tipo de direito divino de definir tudo por nós. Esses legisladores têm apoiado e até mesmo aprovado leis que proíbem a venda de tais objetos lúdicos. Londrina o fez em 2003, lei que vigorou até ser derrubada pelo Tribunal de Justiça do Paraná por ser inconstitucional. O estado de São Paulo acaba de aprovar, na Assembleia Legislativa, lei semelhante, proposta pelo deputado André Prado e que deverá ter o mesmo fim da lei londrinense.

Os únicos que devem definir isso são os pais e responsáveis

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As grandes questões nesse caso são: o Estado tem o direito de interferir na vida privada do cidadão? E esse tipo de restrição traz algum benefício real?

A primeira questão, acredito eu, já deve ter sido minimamente respondida no primeiro parágrafo deste artigo. A segunda pode ser facilmente respondida com a verificação dos índices criminais no Brasil e, em especial, nos locais onde vigoraram tais restrições, e a resposta é obviamente negativa. Não, tal lei não trouxe qualquer benefício. Mas poderia ter trazido em outras circunstâncias? Mais uma vez a resposta será negativa. Não há no mundo nenhum estudo conclusivo sobre algum benefício desse tipo de proibição. Muitos vão exatamente pelo caminho inverso, afirmando a necessidade desse tipo de brincadeira para que uma criança cresça de forma saudável! Em uma rápida busca na internet é possível verificar tais posições.

Tempos atrás, fui surpreendido pelo pedido de um amigo que queria presentear o filho com uma dessas armas de brinquedo que estão muito em moda hoje. Meu espanto veio do fato de ele ser contrário a esse tipo de brinquedo. Resumidamente, ele me contou que, um dia, estava observando seu filho brincando com outras crianças. Enquanto os amiguinhos empunhavam suas coloridas armas em uma fantástica batalha entre alienígenas e zumbis, seu filho contentava-se em disparar raios laser de um graveto achado do chão. Conformado, sentenciou: “É, Bene... eu teria de acabar com todas as árvores do mundo!” E eu respondi: “Ainda assim, sobrariam os dedos e a imaginação indomável de uma criança”. Ele riu e, naquele Natal, o garoto ganhou um brinquedo novo.

Bene Barbosa, especialista em segurança pública e coautor do livro Mentiram para mim sobre o desarmamento, é presidente do Movimento Viva Brasil.