Diante do agravamento da crise dos refugiados na Europa e dos ataques do Estado Islâmico, um tema preocupante vem ganhando cada vez mais destaque na imprensa mundial: as armas químicas.
Este assunto pode parecer distante da nossa realidade no dia a dia, mas o uso de armas químicas talvez seja tão antigo quanto a história das guerras na humanidade, e é relatado há mais de dois milênios. Em 600 a.C., data do primeiro registro do uso dessas substâncias, os atenienses envenenaram as águas de um rio com raiz de Heléboro com o objetivo de intoxicar seus inimigos. Durante a Primeira Guerra Mundial ocorreu o pico de uso desses agentes, quando o exército alemão aplicou gás cloro em ataques contra seus rivais. Por suas propriedades tóxicas, desde então agentes químicos são constantemente empregados com propósitos bélicos e morticínio em guerras e atos terroristas no mundo inteiro.
No último dia 14 de agosto, a imprensa internacional noticiou que curdos no norte do Iraque foram atacados com foguetes cheios de agentes químicos, os quais, segundo as informações que ainda estão sendo apuradas, foram bombas de gás cloro lançadas pelo Estado Islâmico (EI). No dia 12 de março deste ano já haviam sido publicadas notícias sobre um possível uso de gás cloro contra a população curda. Esses prováveis ataques com armas químicas têm sido cada vez mais frequentes e preocupantes e o governo norte-americano está praticamente convicto de que o EI está produzindo e utilizando armas químicas – entre elas, gás mostarda e gás cloro.
É lastimável o uso consciente de produtos tóxicos contra seres humanos realizados por grupos desprovidos de responsabilidade e senso humanitário. A toxicologia se recusa a viver com esse estigma, já que é uma ciência para a predição da toxicidade de produtos químicos para fins de gerenciamento do risco toxicológico e não dever ser confundida como uma alternativa que cause dor e sofrimento.
Atualmente há um intenso esforço de vários países para produzir armas químicas em escala mundial
As armas químicas de guerra são definidas como qualquer substância química cujas propriedades tóxicas são utilizadas com a finalidade de matar, ferir ou incapacitar algum inimigo na guerra, ou associada a operações militares. Esses agentes químicos são classificados de acordo com o mecanismo de ação tóxica para os seres humanos, como agentes neurotóxicos, agentes vesicantes e levisita, agentes sanguíneos, agentes sufocantes e toxinas. Alguns deles são tão devastadores quanto outras armas poderosas, já que muitos, além de provocarem lesões imediatas, também estão associados com morbidades e problemas psicológicos no longo prazo.
Pensando nesses graves problemas e com o objetivo de proibir o desenvolvimento, produção, estocagem e emprego destas substâncias, assim como o uso de gases tóxicos e métodos biológicos nas guerras, em 1997 foi assinada a Convenção para a Proibição de Armas Químicas (CPAQ), que criou a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW, sigla em inglês de Organisation for the Prohibition of Chemical Weapons) e contou com 189 países signatários, inclusive o Brasil. No entanto, atualmente há um intenso esforço de vários países para produzir armas químicas em escala mundial, desrespeitando os protocolos formais de combate às mesmas.
De acordo com a Agência Central de Inteligência (CIA) norte-americana, mais de 20 países estão desenvolvendo ou já possuem armas químicas de guerra, entre eles China, Coreia do Norte, Japão, Rússia, França, Inglaterra, Cuba, Estados Unidos, Índia, Irã, Iraque, Paquistão, Síria e Egito. Por não exigirem uma infraestrutura de produção muito sofisticada, os agentes químicos e biológicos letais são meios bélicos acessíveis aos países em desenvolvimento. Tais compostos – como o gás cloro, que tem aplicação na indústria – são de fácil obtenção e custo baixo se comparados às armas convencionais e nucleares.
O cenário é preocupante e indica que o desenvolvimento, produção e uso de armas químicas é uma realidade. A facilidade de serem empregadas e o grande número de vítimas que causam são alguns dos motivos que fazem grupos terroristas utilizarem esse tipo de armamento. A melhor maneira de combater a prática, que é extremamente condenável sob os aspectos filosófico, religioso, político, humano, moral e ético, por sua periculosidade, pelos efeitos generalizados sobre o meio ambiente e pela facilidade de fabricação, é dar a devida atenção ao assunto, lidando com ele como uma ameaça presente a todo em mundo.
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