O regime comunista chinês tem reagido ao boicote diplomático anunciado pelos governos dos Estados Unidos e de outros países contra os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim com a mescla habitual de cinismo e intimidação. O boicote é motivado pelas políticas repressivas do governo chinês contra a população islâmica dos uigures na região de Xingiang (noroeste do país).
Reportagem publicada no portal Axios no último dia 11 informa que o regime promete amplo acesso a sites e redes sociais estrangeiros para os atletas alojados na Vila Olímpica, enquanto continua a negá-lo ao conjunto da população chinesa, submetido ao Grande Firewall do governo. Mesmo assim, como avisam as autoras da matéria – Ashley Gold, Ina Fried e Bethany Allen-Ebrahimian –, dificilmente os atletas se sentirão à vontade para publicar o que quiserem sobre o país anfitrião.
Conforme adverte o Comitê Olímpico dos Estados Unidos em documento recente, “deve-se presumir que todos os dados e comunicações na China possam ser monitorados, comprometidos ou bloqueados”. Ainda não há clareza a respeito de como as autoridades locais encararão as postagens de cidadãos de outros países, porém as leis da China concedem a elas ampla latitude para reprimir qualquer manifestação on-line classificada como ilegal. Por enquanto, a exemplo do que ocorre em outros segmentos das relações do Ocidente com o “império do centro”, interesses empresariais tendem a prevalecer sobre considerações éticas e humanitárias, como provam as dificuldades encontradas por ativistas para pressionar empresas patrocinadoras a retirar seu apoio aos jogos.
Nos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim, a despeito das promessas do governo chinês e do Comitê Olímpico Internacional, repórteres do mundo inteiro tiveram acesso bloqueado a muitos sites. Mais recentemente, as plataformas de streaming chinesas “cancelaram” os jogos dos times de basquete Boston Celtics e Houston Rockets depois que jogadores e administradores dessas equipes veicularam críticas à situação dos direitos humanos e da liberdade de expressão na China. Atletas americanos, ouvidos em off pelo New York Times, admitiram temer represálias desse tipo por criticar o governo de Xi Jinping.
As democracias avançadas começam a articular uma resistência à estratégia agressiva do Partido Comunista Chinês
Até 19 de janeiro, os governos dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Lituânia, Japão, Dinamarca e Países Baixos já tinham decidido não enviar representações oficiais aos Jogos Olímpicos de Inverno em Pequim, em fevereiro. A Nova Zelândia declarou que não enviará nenhuma comitiva de nível ministerial, e a ministra de Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, disse que não irá comparecer ao evento, embora tenha invocado razões pessoais para sua ausência.
Na verdade, as democracias avançadas começam a articular uma resistência à estratégia agressiva do Partido Comunista Chinês, liderado pelo presidente Xi Jinping, que ambiciona nada menos que substituir as regras liberais do sistema internacional, construído no pós-Segunda Guerra Mundial sob hegemonia dos Estados Unidos (livre mercado e regime representativo), por uma nova ordem mundial sinocêntrica autoritária. Em poucas palavras, ação e reação.
Paulo Kramer é cientista político e especialista da Fundação da Liberdade Econômica.
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