Ao comentar as mortes de crianças nos frequentes massacres nos Estados Unidos, o presidente Obama foi às lágrimas. O homem mais poderoso do mundo revelava seu lado sensível e compaixão, provocando admiração e solidariedade. Afirmou que “não podemos deixar que esses massacres se tornem normais”. Denunciou a chantagem da indústria de armas sobre o Congresso, que se recusa a votar o controle de armas, mas advertiu que “o povo não será mantido refém” da indústria. De fato, 85% da população é a favor de que as autoridades chequem os antecedentes de quem quer comprar arma. Obama pretende avançar no controle, tímido pelos padrões internacionais, através de decretos, proibindo a venda de armas de guerra para civis e criando bancos de dados sobre os proprietários.
Nos Estados Unidos, a tecnologia já permite produzir as smart guns, armas que só disparam com a digital de seu proprietário. A indústria, porém, não acha lucrativa sua produção e, no entanto, fabrica armas coloridas para mulheres, para combinar com a cor do vestido. Inconformado, Obama cita Connecticut, onde o controle de armas reduziu os homicídios em 40%, e o Missouri, onde o descontrole aumentou essas mortes em 15%.
No Brasil, ao se liberar o porte de armas, será possível andar armado nos shoppings, escolas e praias
Das lágrimas à ficção
Sempre que alguém apela para o lado emocional em uma discussão que deveria ser minimamente técnica, o motivo é um só: ausência de argumentos consistentes que sejam capazes de convencer alguém daquilo que é proposto.
Leia o artigo de João Luís Teixeira, do Movimento Viva Brasil.No Brasil, um projeto busca esvaziar a Lei de Controle de Armas (Estatuto do Desarmamento). Seus defensores citam os EUA como exemplo, “um país armado e com índices de morte mais baixos que o Brasil”. Onde está o erro de avaliação? Segundo pesquisa da Universidade de Stanford, são várias as causas da violência armada que se somam à proliferação de armas, como má distribuição de renda, corrupção policial, impunidade etc. Por isso, é necessário comparar os EUA às demais 36 nações desenvolvidas, entre as quais os EUA se destacam como a mais violenta. Sua taxa de homicídios por arma de fogo é de 10,2 por 100 mil habitantes, quando na Alemanha é de 1; na Grã-Bretanha, de 0,2; e no Japão, de 0,03, sendo que nos dois últimos países civis não podem ter arma de fogo. Os EUA são o país com mais alto índice de suicídios com arma de fogo do planeta (5,5), representando 57% do total de mortes dessa natureza.
Quando o presidente Obama afirma não se conformar com os mass shootings, refere-se aos 355 massacres lá ocorridos no ano passado, muitos em escolas e igrejas. No Brasil, ao se liberar o porte de armas, como pretendem os parlamentares financiados pela indústria de armas, também será possível andar armado nos shoppings, escolas e praias.
Eles alegam que “temos de usar armas na rua para nos defender”, quando sabemos que, de dez pessoas armadas assaltadas com armas, morrem oito, em média, segundo a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Nós, especialistas, sabemos que arma é boa para ataque, não para defesa, pois entra aí o fator surpresa, a favor do assaltante.
Enquanto nos EUA se busca avançar no controle das armas, pelo projeto do lobby brasileiro, mesmo quem foi condenado por crime culposo poderá comprar arma. Os jovens, que morrem quatro vezes mais que os adultos, terão a idade mínima para comprar arma reduzida de 25 para 21 anos, aumentando o genocídio juvenil.
Segundo o Ipea, antes da lei atual, os homicídios aumentavam em média 8,36% ao ano; depois da lei, crescem apenas 0,53%. Ainda um aumento que exige a reforma da segurança pública, e não a eliminação de uma lei que traz ótimos resultados, sob o pretexto de “aperfeiçoá-la”.
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