Nomeação do economista Marcio Pochmann à presidência do IBGE foi publicada nesta terça no Diário Oficial da União.| Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil / arquivo
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Apesar dos seus 523 anos, o Brasil ainda não parece pensar no longo prazo. Mesmo que o presidente tenha a prerrogativa de escolher uma considerável lista de cargos, isso não o autoriza a preencher as principais cadeiras do país com membros de sua base militante. Pelo menos, não deveria. Tomemos a indicação do economista Marcio Pochmann para a para a presidência do IBGE como exemplo. Pochmann é retratado como integrante da ala radical do PT, com risco iminente de aparelhamento político no IBGE, assim como em suas experiências passadas de gestão. A comparação com a Argentina é inevitável. Nosso vizinho tomou o caminho de priorizar escolhas políticas ao invés de  técnicas, e o resultado não poderia ser outro além de desastroso.

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Durante 9 anos (2007-2013),  argentinos conviveram com a falta de credibilidade nos dados oficiais de inflação e de pobreza no país. O apagão dos índices básicos das áreas econômica e social começou em 2007, quando técnicos do  renunciaram após denunciar a "intervenção política" na formulação dos números. O principal responsável apontado foi Guillermo Moreno, então secretário de Estado do Comércio e sempre apoiado pela então presidente Cristina Kirchner. Na prática, Moreno foi responsável por impulsionar a falsificação das cifras de crescimento da economia e da inflação por meio da manipulação dos dados oficiais. Enquanto a população acreditava na melhora dos indicadores, a realidade escondia uma inflação galopante e um crescente endividamento público.

Para os brasileiros, a pergunta: ficará comprometida a gestão de um dos principais órgãos técnicos do país? A resposta pode estar em seu histórico. Pochmann foi presidente do Ipea, entre 2007 e 2012, protagonizando a decadência do órgão. O economista chegou ao Ipea pelas mãos de Guido Mantega após a queda de Antonio Palocci. Os relatos não são poucos sobre sua desastrosa gestão: demitiu e censurou quadros técnicos e qualificados, colocando ideologias à frente de fatos e dados. Curiosamente, expurgos, projetos extintos por inanição e textos críticos às políticas do governo que “dormiam” nas gavetas silenciosamente.

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Para Lula e Gleisi Hoffmann, Pochmann representa “uma referência intelectual”. Então, vamos examinar suas ideias. Em sua atuação, defende muita intervenção do Estado na economia e é conhecido por seu pensamento apontado como “terraplanismo econômico” por seus pares. Em outubro de 2020, pouco antes do lançamento do Pix pelo Banco Central, Pochmann criticou a ferramenta. “Com o Pix, [o] Bacen concede mais um passo na via neocolonial à qual o Brasil já se encontra ao continuar seguindo o receituário neoliberal” , alegou nas redes sociais.

Não bastasse, mostrou toda sua face ideológica ao criticar reformas importantes como a trabalhista, a autonomia do Banco Central e a privatização da Eletrobras. Não à toa seu nome teve apoio do PT, mas enfrentou resistência do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e da ministra do Planejamento, Simone Tebet. Afinal, qual será a credibilidade de Pochmann junto aos agentes econômicos? Talvez restrita a determinados círculos, cujo olhar é para trás e não para frente. Em essência, ele se assemelha a um típico economista da década de 60, quando o mundo ainda estava envolto na Guerra Fria, e tudo se atribuía  ao  capitalismo ou ao socialismo. A Frente Ampla pela Democracia de Lula foi sucumbida por nada mais que um folhetim de organização estudantil – militante e presa a antigas ideias. Como sabíamos que seria.

Melani Ruppenthal é coordenadora do Instituto Atlantos. É graduada em jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em Comunicação e Marketing.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]