Londres, Berlim ou Barcelona estão constantemente agregando novas construções em suas malhas urbanas. Outras cidades como Roma ou Paris, não permitem que se faça nada que altere a imagem já cristalizada da cidade
Curitiba, como a maioria das cidades brasileiras de formação católica, tinha como principal espaço urbano a praça da igreja matriz. Reerguida no final do século 19, a Catedral na Praça Tiradentes é o primeiro ícone histórico da cidade.
As cidades com séculos de estrutura urbana consolidada têm sua identidade marcada por edifícios consagrados. Segundo Aldo Rossi em seu livro Arquitetura da Cidade, os monumentos definem a identidade da cidade. Exemplos clássicos como a Torre Eilffel em Paris, o Duomo de Milão ou o edifício Chrysler em Nova York são a própria imagem da cidade. A possibilidade de ausência desses monumentos faria com que a cidade perdesse sua principal fisionomia.
Londres, Berlim ou Barcelona estão constantemente agregando novas construções em suas malhas urbanas. Outras cidades como Roma ou Paris, não permitem que se faça nada que altere a imagem já cristalizada da cidade. Voltar para esses lugares é ter a certeza de que tudo permanece com sua beleza já gravada e inalterada em nossa memória.
Cidades novíssimas como Cingapura ou Dubai precisam criar edifícios com grande presença para se firmarem como centros financeiros ou como polos turísticos. Na Ásia, Kuala Lumpur, Xangai e Hong Kong, inspiradas no modelo norte-americano, disputam o local da construção do edifício mais alto do mundo.
As cidades brasileiras, principalmente aquelas com estruturação urbana mais recente, precisam criar seus ícones. Não basta construí-los, eles precisam ser absorvidos e consagrados pela comunidade.
Não faz muito tempo, mediante ampla pesquisa na mídia, a sede da Universidade Federal do Paraná foi escolhida como edifício mais importante da cidade. A presença deste edifício com sua monumentalidade neoclássica, simbolizando cultura e saber, foi a principal justificativa para a escolha. Talvez por ser muito funcionalista e abstrato, o Teatro Guaíra de Rubens Meister, não foi escolhido.
Na década de 1990 foram construídos portais, memoriais e parques para enaltecer as diversas imigrações que compõem a formação cultural de Curitiba. Depois de homenagear todas as etnias, esses espaços perderam um pouco de seu impacto inicial.
Recentemente, os museus substituíram as igrejas como principal espaço de reunião das cidades. Bilbao, localizada na região de língua basca na Espanha, resolveu divulgar sua imagem com a construção de um museu que abrigasse exposições da coleção Guggenheim. Aproveitando área remanescente de antigas instalações industriais, Frank Ghery venceu concurso internacional de arquitetura para escolha do projeto.
O resultado transformou uma cidade pouco conhecida em local obrigatório para visita de turistas. O museu interage com o rio, a ponte e as ruas criando extraordinários espaços públicos. A gigantesca estrutura de aço revestida de finíssimas chapas de titânio abriga exposições de arte contemporânea que se estendem para os espaços externos do edifício. Perspectivas inesperadas surgem em cada ângulo em um passeio dentro e fora do museu.
O prefeito de Niterói, interessado em criar um edifício marcante para sua cidade, convidou Oscar Niemeyer para desenhar um museu de arte, tendo a companhia do arquiteto na escolha do terreno. Como resultado o edifício se destaca na paisagem em ambos os lados da baía de Guanabara. Como em outros casos o espaço cultural com mostras temporárias é mais importante que um grande acervo sem disponibilidades de exposição.
Em Curitiba o edifício projetado por Niemeyer para o Instituto de Educação e utilizado como sede das Secretarias de Estado foi cogitado em se transformar em museu de arte. Acompanhado pelo diretor do Museu Guggenheim, Frank Ghery esteve em Curitiba durante algumas horas visitando o lugar. Em vez de se usar esta "franquia" resolveu-se chamar o autor do projeto para criar o salão principal. A forma adotada, popularmente conhecida como "museu do olho" rapidamente se transformou em ícone da cidade.
Em menos de uma década o Museu Oscar Niemeyer (MON) consagrou-se nacionalmente como importante espaço cultural, agregando outras funções como local de passeio de cachorro de estimação nos domingos à tarde.
Salvador Gnoato, arquiteto, é professor na PUCPR.
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Este texto integra uma rodada quinzenal de discussões sobre a cidade. Também integram o grupo Clovis Ultramari, Fabio Duarte e Irã Dudeque. Tema desta rodada: ícones arquitetônicos.
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