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É difícil realizar tarefas sem um smartphone nos dias de hoje. Ele se tornou uma necessidade diária. Vivemos em um mundo cada vez mais automatizado e impulsionado pela tecnologia. A Unesco, o braço educacional, científico e cultural da ONU, no entanto, afirma que há evidências de que o uso excessivo de celulares está relacionado à redução do desempenho educacional. A agência alega que passar muito tempo em frente às telas, seja na escola ou em sala de aula, gera um efeito negativo na estabilidade emocional das crianças.
O posicionamento da Unesco acontece em um momento em que os países começaram a proibir os smartphones nas salas de aula, como França, Itália e Finlândia. As opiniões são divididas sobre a proibição total dos celulares, que se tornou uma importante fonte de educação para o mundo durante a pandemia do Covid-19.
A tecnologia digital como um todo, incluindo a inteligência artificial, nunca deve substituir o ensino face a face.
De acordo com uma pesquisa da London School of Economics, a proibição de telefones celulares nas escolas resultou em pontuações mais altas nos testes, com os alunos de baixo desempenho sendo os mais beneficiados. Outro estudo publicado pela Universidade de Chicago constatou que a simples presença de celulares reduz a capacidade cognitiva das pessoas. Já um estudo realizado na Espanha concluiu que a proibição de telefones celulares nas escolas levou a uma queda nos incidentes de bullying. Resultados parecidos foram encontrados por pesquisadores na Noruega. Escolas adotaram medidas restritivas quanto ao uso de telefones celulares observaram efeitos positivos na socialização dos alunos.
A questão do banimento de celulares em sala de aula é um tema controverso. Hoje, no Brasil, não há uma legislação federal que proíba o uso de celulares em sala de aula. No entanto, algumas escolas e redes de ensino têm adotado políticas próprias para vedar ou restringir o uso de celulares. No município do Rio de Janeiro, esta proibição passou a valer desde o início de agosto em toda a rede municipal de ensino da cidade, que tem 1.545 escolas e 660 mil alunos.
É importante lembrar que o banimento de celulares não é uma solução mágica para todos os problemas de disciplina em sala de aula. É apenas uma ferramenta que pode ajudar a melhorar o ambiente de aprendizagem. As escolas também devem ser financiadas para que haja tecnologia adequada nas salas de aula. Se todos os alunos tivessem acesso a tablets ou notebooks, sempre devidamente monitorados pelos tutores, não haveria nenhuma desculpa para manter celulares liberados.
Os smartphones são uma presença onipresente e inevitável em nossas vidas. A maioria de nós se sentiria perdida se esquecesse o celular em casa. Mas é exatamente por isso que é ainda mais importante mantermos as salas de aula como "santuários", longe dos pequenos dispositivos.
A tecnologia digital como um todo, incluindo a inteligência artificial, nunca deve substituir o ensino face a face. Conexões online não suprem a interação humana entre professor e aluno. O importante, porém, é encontrar um equilíbrio que promova um ambiente de aprendizado eficaz e ao mesmo tempo prepare os alunos para a era digital em que vivemos. Chega de fingir que o problema não existe.
Lana Romani e Isabel Lecuyer são fundadoras do movimento Escolas Abertas.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos