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A Economia não é ciência exata, e esse é o problema. Qualquer escolha pode se revelar uma dádiva como pode ser um desastre. Só o futuro dirá

Em sua maioria, os dias e os meses de nossa vida vêm e vão, todos muito parecidos uns com os outros, numa rotina quase imutável, sem que nada de especial ou de diferente aconteça e sem que nenhum deles se destaque. Mas, como disse o escritor John Maxwell, há uns poucos dias de nossa vida que são verdadeiros "momentos de definição", quando temos de tomar as mais importantes decisões, aquelas que vão moldar o que seremos e como iremos viver.

Esses "momentos de definição" podem ser verdadeiras pepitas de ouro, que aproveitaremos para fazer as melhores escolhas e definir nosso sucesso e nossa felicidade, ou podem ser gotas de veneno, em que faremos as piores escolhas e tomaremos as piores decisões. O problema é que, muitas vezes, no momento exato de uma decisão, não temos conhecimento nem discernimento para saber se estamos escolhendo o caminho do sucesso ou a estrada do fracasso.

Conquanto atinjam prioritariamente nossa vida pessoal e familiar, as escolhas cruciais nos pegam também no terreno da profissão e do trabalho, mesmo que, muitas vezes, daríamos tudo para não ter de enfrentá-las. Na vida dos grandes líderes, por exemplo, há sempre algum "dia D", alguma encruzilhada fatídica, em que de sua decisão pode nascer um tempo de luz e alegria ou um tempo de dor e escuridão.

A história nos revela exemplos dramáticos: a decisão do presidente Harry Truman de lançar a bomba atômica sobre o Japão; a decisão de Napoleão de mandar passar a fio de espada 3 mil prisioneiros de guerra (os pestosos de Jaffa), porque os alimentos que eles consumiam começava a faltar para os soldados; a decisão de Pilatos de impedir ou não a crucificação de Jesus; e por aí vai.

Pense nas decisões mais difíceis de sua vida, quando diante de várias opções você teve de fazer uma escolha sobre sua vida pessoal, sua carreira, seu futuro. Todos nós, em algum momento, teremos de tomar decisões profundas, diante de eventos inevitáveis, como por exemplo: 1) a escolha da profissão (talvez quando você entrou na universidade); 2) a escolha da pessoa com quem casar; 3) a descoberta de alguma doença grave; 4) a morte de um parente próximo; 5) a perda de um emprego (às vezes, no pior momento da vida); 6) a falência ou a perda do patrimônio; 7) o dilema de ter de perdoar ou condenar alguém.

O tema deste texto me ocorreu em função da encruzilhada em que se encontra a primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel. A história teve o capricho de jogar no colo dessa mulher um "momento de definição", do qual dependerá a recuperação ou fracasso de, pelo menos, 17 dos 27 países que compõem a União Europeia (são os 17 países que usam o euro como moeda; os demais fazem parte do bloco, mas mantêm suas moedas nacionais).

A senhora Merkel está diante de duas opções: autorizar a criação de um título público de todo o bloco garantido pela Alemanha, para financiar os países em crise, ou não aprovar essa medida e exigir que os endividados façam reformas, parem de gastar e enfrentem os sacrifícios necessários para consertar as finanças públicas destruídas por maus governos. O drama é que os efeitos de longo prazo, tanto de uma quanto de outra medida, podem ser previstos, mas não garantidos.

A Economia não é ciência exata, e esse é o problema. Qualquer escolha pode se revelar uma dádiva como pode ser um desastre. Só o futuro dirá. É a mesma lógica embutida nas escolhas pessoais, na escolha da profissão e no comportamento que adotamos nas relações familiares e sociais. Na maioria das vezes, somente depois de muito tempo é que saberemos se nossa decisão foi um acerto feliz ou um erro dramático, mesmo porque, muitas vezes os demônios aparecem travestidos de anjos, e certas tragédias de amanhã nos chegam disfarçadas de oportunidades douradas hoje.

Jean-Paul Sartre dizia que "estamos condenados à liberdade", pois, diante dos eventos da vida, a decisão de nada fazer é uma escolha. Recusar-se a escolher e fugir à necessidade de decidir é quase não viver, mas apenas passar pelos anos. O melhor é que, seja qual for a circunstância, optemos pelo bem, pelo bom e pelo justo. Entreanto, concluir sobre por que determinadas condutas são de fato boas e justas, eis aí um grande enigma da vida, sobretudo porque o ser humano tem a mania de achar que o inferno são outros (outra expressão de Sartre), quando, às vezes, o inferno está dentro de nós mesmos.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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