De alguma forma, todos já tivemos notícias de redução drástica de número de empregados, geralmente em época de retração econômica.
Não me contradigo. Sempre fui favorável à solução de conflitos mediante negociação entre as partes, porém empresas notadamente lucrativas não podem simplesmente ser desativadas na iminência da redução ou cessação de lucros. Essa conta deve ser feita ao longo dos anos, computando-se aí o período em que se beneficiou de um mercado aquecido, quando o restante do mundo amargava uma derrota econômica, além dos incentivos governamentais em todos os níveis.
É o exemplo do que está ocorrendo agora com o HSBC, com as particularidades do sistema bancário. Não indo à falência, a marca será transferida juntamente com seus ativos e clientes sem maiores problemas, sempre na expectativa das promessas de melhoria no atendimento.
Quem realmente se lembra da venda do Bamerindus ao HSBC? Arrisco-me a dizer que apenas seus funcionários e o entorno dos prédios administrativos. E quem lembra dos absurdos memorandos da nova diretoria? Recomendavam que “os funcionários devem manter a boa higiene a asseio com seu corpo, evitando odores de transpiração ou outra situação desagradável”, e ainda que tomassem banho, escovassem os dentes e cuidassem da pele e unhas, segundo a Folha de S.Paulo de 10 de junho de 1997 e a revista Exame de 8 de outubro de 2003.
As contas foram assumidas, os clientes não perderam dinheiro e a vida continuou. Em um ano foram fechadas aproximadamente 100 agências no Brasil.
Quem realmente se lembra da venda do Bamerindus ao HSBC?
O que aconteceu com o Bamerindus não tardou a acontecer com outro banco de origem paranaense: o Banestado, transferido ao Itaú. Muita gritaria, indignação, mas resistência, mesmo, apenas dos bancários.
A paspalhice não pode ser repetida.
As mesmas condições são vislumbradas: transferências de ativos, de clientes e corte drástico no número de trabalhadores. Entretanto, desta vez há agravantes. Os dois bancos que apresentaram as propostas vinculantes, assim chamados os valores ofertados, são geridos a partir de outro estado.
A diferença é significativa. Apenas nas cinco sedes administrativas são mais 5 mil empregos diretos. Acresçam-se a estes todos os terceirizados (limpeza, vigilância etc.), e novamente o entorno. Claro, o banco não fez qualquer estudo de impacto, que nada lhe interessa. Tanto faz. Mas, pelos cálculos do economista Cid Cordeiro, cada emprego direto corresponde a três indiretos, incluindo aí toda a cercania dos centros administrativos e das grandes agências.
Já não acho que a direção nacional do HSBC tenha muito a dizer. Nada disse antes e desconfio que pouco saiba. Consta que ficará à margem de toda a decisão de venda. Entretanto, a notícia por ela trazida a público, de que não haverá demissões, é esperançosa; um acordo coletivo entre o HSBC e os sindicatos de bancários, ratificado no contrato de compra e venda, deixaria todos mais tranquilos de que a garantia não é “para inglês ver”.
Desta vez, outros atores não se mostram indiferentes. Falo de todo o Legislativo paranaense, da administração municipal, da Associação Comercial e tantos quantos queiram se associar a esta luta.
Qual a garantia de sucesso que se tem? Nenhuma, claro. Mas aprendamos com o movimento social: a mobilização pode, sim, dar resultados. É a minha vivência, é no que acredito.