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A cada eleição, são realizadas propagandas para estimular as candidaturas de mulheres, bem como a eleição de mulheres. No entanto, essas iniciativas não têm se reproduzido na prática e as mulheres estão longe de compor sua representatividade, pois somos 52% da população e menos de 10% dos eleitos. As estatísticas apresentadas no site do TSE-PR para as eleições municipais de 2016 indicam que 68% dos candidatos são homens e 32%, mulheres. Do total, 80% se declaram brancos. O dado carece de análise mais profunda, mas primariamente pode-se perceber que os partidos, em sua maioria, apenas cumprem a cota para as eleições.

As dificuldades das candidaturas de mulheres continuam as mesmas das eleições anteriores: machismo, desprestígio por parte dos partidos políticos, tripla jornada de atuação (casa, trabalho e política), falta de apoio familiar, desprezo por parte dos setores conservadores. Dados estatísticos mostram, também, que a maioria das mulheres é eleita pela chamada “herança familiar” – elas herdam os votos e atitudes de seus pais, maridos etc. Poucas mulheres eleitas são oriundas de movimentos sociais que trazem as reais reivindicações da população.

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Mesmo com esse cenário adverso, surgem novidades na política, como candidatas levantando bandeiras específicas como as pautas LGBT, da negritude, da saúde feminina, do repúdio à cultura do estupro, entre outros temas relevantes que fazem parte do cenário nacional. Cientes de seu papel e da importância de apontar situações que impedem as mulheres de terem vida plena e digna, as candidatas valorizam a oportunidade desse momento único e fantástico de expor suas ideias e propostas, buscando mudar a realidade e contribuir para que a democracia seja realmente representativa da nossa população.

As dificuldades das candidaturas de mulheres continuam as mesmas das eleições anteriores

Outro ponto a ser considerado nas eleições municipais é o papel das organizações de mulheres que buscam apresentar suas propostas aos candidatos(as) a prefeito(a) para que as encampem e coloquem ações para melhorar a vida das mulheres em seus governos. Propostas como as que fortalecem o combate à violência contra a mulher, por exemplo, são de extrema relevância, principalmente em um país que ainda considera a vítima de estupro como a culpada pela violência sofrida – em pesquisa recente, 30% dos entrevistados disseram achar que a mulher foi estuprada porque “deu mole”.

A cultura de desvalorização da mulher, tratando-a como culpada da própria agressão, ainda é muito forte em nosso país e as eleições com mulheres candidatas possibilitam colocar na ordem do dia reivindicações relevantes como o fortalecimento da rede de enfrentamento à violência contra a mulher; o cumprimento da lei de salários iguais para mulheres e homens no exercício da mesma função; a necessidade da rede de atendimento à saúde da mulher; a qualificação de profissionais de saúde, Justiça e segurança pública no atendimento às mulheres em situação de violência; o funcionamento adequado dos equipamentos públicos; a igualdade da presença da mulher na política; e o cumprimento real da Lei Maria da Penha, entre tantas reivindicações dos movimentos organizados e conselhos de mulheres.

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Assim, nos municípios podem ser realizadas muitas ações para o enfrentamento à violência contra as mulheres, com ações por parte do Executivo e do Legislativo: desde a criação de órgãos de atendimento às mulheres na estrutura hierárquica das prefeituras até campanhas de informações e conscientização.

A criação de organismos municipais de atendimento às mulheres, com orçamento próprio, é uma dessas ações possíveis que contribuem para uma vida com mais dignidade para as mulheres e, consequentemente, para as crianças e suas famílias. Por sua vez, campanhas pelo fim da violência contra as mulheres podem ser realizadas nos municípios com o envolvimento da sociedade, mostrando, principalmente, que os relacionamentos abusivos são sinais claros de violência emocional que pode culminar em violência física.

Por fim, a presença das mulheres na política equilibra as relações de poder e de representatividade, para além de tratar as situações de violência contra a mulher, com atuação em todos os setores da sociedade.

Tania Fatima Calvi Tait, professora universitária e pós-doutoranda em História, é coordenadora da ONG Maria do Ingá-Direitos da Mulher e integrante dos conselhos municipal e estadual dos Direitos da Mulher.