Há um tema que sempre desaparece por completo nas campanhas eleitorais. Qualquer que seja a instância, a agenda da conservação de espaços naturais não entra na pauta dos candidatos. O assunto não vinga, mesmo com um crescente entendimento da sociedade sobre a dependência existente entre o nosso bem-estar e a garantia de progresso econômico com a manutenção de uma fração de nosso território com áreas bem conservadas.
Como Curitiba fará para manter seus últimos redutos nativos, públicos e privados, não é tema em pauta, mesmo com a previsão de que a destruição paulatina dessas áreas causará grande impacto da qualidade de vida da população. Deixaremos de dispor de espaços naturais que qualificam nossa cidade como um lugar mais salubre e estaremos à mercê de eventos climáticos extremos sem poder contar com a resiliência que áreas naturais propiciam para mitigar esses efeitos.
Onde estão as propostas consistentes com um futuro que equilibre conservação e desenvolvimento?
Sobrou pouco tempo para que as propostas dos candidatos da atual eleição para prefeito de Curitiba pudessem ser melhor discutidas e para uma apresentação mais consistente de postulações para a população. Sobrou espaço para que argumentos desabonadores fossem colocados na mídia, uma competição desenfreada sobre quem tem mais munição para falar mal do outro.
Com a troca de farpas que parece inesgotável, eleitores têm pela frente a difícil tarefa de distinguir quais dos candidatos têm propostas mais realistas e factíveis, dada a ampla gama de promessas que reiteradamente o atual prefeito insistiu em afirmar não serem condizentes com a situação orçamentária atual da capital paranaense. Se houver eleitores interessados em conhecer a pauta de conservação dos nossos candidatos, a saída será tentar adivinhar quais são as ideias existentes, pois não há referências consistentes acerca desse tema em seus programas de governo.
Dependendo de um bom esforço de filtragem sobre o que realmente está na pauta nessa eleição, repetem-se as agendas convencionais, em que saúde, educação e outros temas que costumam fazer parte das prioridades da própria sociedade integram os argumentos. No entanto, não há como fugir de uma realidade incontestável: há um déficit histórico representado pela desatenção crônica sobre a implantação de políticas efetivas que permitam a proteção de nosso patrimônio natural. Não apenas no perímetro da cidade de Curitiba, mas de toda a sua região metropolitana, onde dezenas de gestões municipais atuam com ainda menos rigor frente ao tema.
Se o futuro que sonhamos se relaciona com o que ocorre hoje em São Paulo, não cabe insistir num caminho alternativo. São Paulo se esqueceu de proteger áreas naturais em seu entorno, acaba de viver uma grave crise hídrica e padece de males intratáveis e crônicos, em grande parte causados pela inexistência de uma política que concilie o desenvolvimento com a proteção de áreas naturais.
Será o destino de Curitiba caminhar para uma condição de grande cidade em função tão somente do número de habitantes que comporta, e não em relação à qualidade de vida que poderia oferecer? Que os candidatos que ainda lutam pelo direito de sentar na cadeira de prefeito se pronunciem. Onde estão as propostas consistentes com um futuro que equilibre a conservação da natureza com o desenvolvimento? Até quando ignoraremos a necessidade de garantir políticas que permitam a perpetuação de suficientes áreas naturais protegidas para o lugar que vivemos?
Deixe sua opinião