A decisão de um partido político lançar candidatura à prefeitura parece simples, mas envolve cálculos complexos. Embora o diretório municipal escolha o candidato, essa decisão depende da força do partido na região, construída por alianças com grupos econômicos e sociais que apoiam a candidatura. Essas alianças visam aproximar o eleitor e convencer sobre a representatividade da candidatura.
A estratégia partidária que também está ligada à força nacional do partido político que define o investimento em campanhas locais e afeta as chances de sucesso. Nas capitais, essa dinâmica é ainda mais intensa, já que a concentração populacional e econômica as torna vitrines partidárias.
A avaliação das candidaturas revela a postura estratégica dos partidos, que optam por distribuição regional, visando ampliar suas bases eleitorais
Portanto, a escolha entre candidatura própria ou alianças depende da organização política regional, que sempre busca expandir a base eleitoral. Analisando as candidaturas nas 26 capitais em 2024, podemos entender o posicionamento dos 35 partidos, com base nos dados do TSE.
O partido NOVO é o que detém o maior número de candidatos à prefeito e à vice. Buscando expandir sua presença ideológica liberal, está presente em 60% das capitais brasileiras. Além disso, o partido tem diversificado suas candidaturas para reverter perdas na Câmara Federal. No Sul, onde concorre apenas em Porto Alegre, o NOVO se alinha com o PL, como ocorre em outros municípios do país, já que se aproximam das mesmas pautas.
O PSTU, com 58% de candidaturas, mantém sua tradição de extrema-esquerda sem alianças. Partidos como PCO e UP seguem a mesma linha, exceto no Centro-Oeste, onde somente a UP tem uma candidatura em Campo Grande.
O PL, principal partido de oposição ao governo federal, aparece em 54% das capitais. A sigla busca confirmar sua força de extrema-direita, ligada à figura do ex-presidente Bolsonaro, mas curiosamente não tem candidatos a prefeito no Sul, concentrando-se em chapas como vice.
Por outro lado, o PT, por estar na situação do governo federal, optou por aliar-se a outros partidos políticos, mostrando uma posição mais pragmática em 2024. Tem representantes de candidaturas em todas as regiões do país (40% de candidaturas), com uma particularidade no Norte, onde só possui candidato à prefeitura em Manaus, apoiando outras candidaturas que reforçam as possibilidades de derrotar o bolsonarismo da região.
O PSOL se posiciona como o partido que tem maior número de candidaturas a prefeito. São 16 ao total. E tem por objetivo fortalecer sua posição na esquerda e possibilitar lançar maior reconhecimento à população. No entanto, o partido mantém uma presença limitada no Centro-Oeste, tendo apenas um candidato em Campo Grande.
Os partidos políticos do Centrão – UNIÃO, MDB e PSD – seguem estratégias regionais diversificadas para manter determinados grupos sociais no poder. O UNIÃO domina o Centro-Oeste e o Nordeste, o MDB é forte no Norte, e o PSD se destaca no Sul.
Entre os partidos de “legendas médias”, suas estratégias de candidaturas nas capitais brasileiras revelam posturas regionais e alianças diversificadas. O PDT, por exemplo, possui forte representação no Nordeste e no Sul. Enquanto na região Norte o Progressistas se destaca em candidaturas à vice-prefeitos. Caso semelhante com o Solidariedade que, à exceção do Sudeste, possui candidatos à vice em diversas regiões do país.
Caso interessante é a ‘dobradinha’ realizada entre o PSDB e AVANTE nas regiões do país. Enquanto o PSDB concentra forças no Centro-Oeste e Sudeste, o AVANTE tem candidaturas no Nordeste, Sul e Norte do país.
Por outro lado, partidos políticos como o PSB, Podemos e Republicanos apresentam candidaturas mais pontuais no país. O PSB aposta em candidaturas-chave à prefeitura de Recife, São Paulo e Curitiba. Já o Podemos aposta em mais candidaturas no Norte e Republicanos tem presença modesta nas capitais do Sudeste e do Norte.
Por fim, é importante ressaltar sobre a Lei 13.165/2015 e a Emenda Constitucional 97/2017, as quais proibiram coligações proporcionais e impuseram cláusulas de desempenho, o que afetou principalmente os pequenos partidos, que aparecem com pouca representatividade nas capitais. São os casos de AGIR, DC, PMB, MOBILIZA, PRD e PCB que tem pouquíssimas candidaturas, pois dependem de alianças ou ainda de federações, como a REDE-PSOL, PCdoB-PV ligada ao PT e CIDADANIA junto ao PSDB.
A avaliação das candidaturas revela a postura estratégica dos partidos políticos, que optam por distribuição regional, visando ampliar suas bases eleitorais conforme as dinâmicas socioeconômicas das capitais.
Como o partido detém o monopólio sobre o lançamento de candidaturas, suas decisões são determinantes na conquista do poder. E por isso, mesmo com baixa identificação popular, entender essa estratégia permite ao eleitor compreender os bastidores desse complexo jogo político dos municípios do Brasil.
Luiz Henrique Apollo da Silva é mestre em Sociologia, especialista em Estudos Estratégicos Internacionais e consultor em políticas públicas pela QCP Consultoria.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink