Nos últimos anos, os brasileiros resolveram assumir a sua condição de cidadãos. Preocupados com a deterioração da situação econômica e social do país, foram às ruas e tomaram as redes sociais para exigir mudanças no comportamento dos políticos, culminando com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. E não pararam por aí. Abraçaram a Operação Lava Jato como uma santa cruzada contra a corrupção no poder público e continuam atentos a todas as tentativas para dificultar o trabalho da Polícia Federal, do Ministério Público e do Poder Judiciário. É um belo exercício de cidadania, de fortalecimento da democracia e absolutamente necessário para restabelecer o respeito às nossas instituições. Mas será que é suficiente para colocar o país na direção de um futuro promissor, ou seja, capaz de diminuir as desigualdades e criar condições para melhorar a vida dos brasileiros?
A política, em si, não é boa nem ruim. A atuação das pessoas é que a qualifica ou desqualifica
Não me parece. A Lava Jato merece todo o nosso apoio e todos nós queremos o seu sucesso. Mas devemos lembrar que o seu papel é investigar, processar, absolver ou condenar pessoas suspeitas de praticar crimes contra a sociedade brasileira e não de estabelecer o rumo de nossa prosperidade. Cabe aos homens de bem tomar essa tarefa em suas mãos. Não vamos desviar os olhos da Justiça Federal, mas o país só vai melhorar se assumirmos o lugar e as tarefas dos que nos fizeram tanto mal e fecharmos as portas aos oportunistas. As gerações atuais não podem passar à história como incapazes de formar e escolher líderes preparados para conduzir os destinos da nossa nação. A atividade política, em si, não é boa nem ruim, e nem deve ser execrada. A atuação das pessoas é que a qualifica ou desqualifica. O mesmo se pode dizer das instituições. Em qualquer lugar do mundo elas também apresentam defeitos e, com certeza, brechas para práticas escusas; o que impede que se concretizem são o respeito que impõem e a vigilância da sociedade.
Há reformas inadiáveis na pauta do Congresso, como a da Previdência, e muitos se colocam contra ou a favor de acordo com os seus interesses pessoais e imediatos. Não pensam no país, nas futuras gerações e nem na limitação dos recursos públicos, embora, nesse aspecto, a gestão do dinheiro recolhido pelo governo com os impostos pagos por todos nós não seja, há muitos anos, um exemplo de eficiência e competência. A máquina estatal atende, em doses desmedidas, à demanda política por cargos e não à necessidade dos brasileiros e, por isso mesmo, precisa ser revista para ter exatamente o tamanho do serviço que presta à população. Todas as reformas, como a trabalhista (já realizada) e as outras – como a tributária e, especialmente, a política –, só chegarão aos resultados que a sociedade espera no futuro se os parlamentares de hoje não usarem o seu poder de legislar para descaracterizar propostas, abrir brechas e embutir privilégios ou favores, seja a segmentos econômicos, seja a pessoas ou corporações. E não é preciso pesquisar muito para observar que, na nossa história, boa parte das grandes fortunas nacionais foi construída à sombra do Estado e não à custa de trabalho e de capacidade empreendedora.
Leia também: Sombras e luzes (artigo de Carlos Alberto di Franco, publicado em 11 de setembro de 2017)
Nossas convicções: Os responsáveis pelo bem comum
Com a consciência coletiva que se forma na sociedade hoje, talvez, como em nenhum outro momento de nossa história, temos a oportunidade de passar o Brasil a limpo. E não me refiro apenas à Lava Jato em seu papel intrínseco. Espero que, além de punir criminosos, ela contribua para instituir em nossa cultura princípios que expulsem da nossa vida o tal “jeitinho”; que não abram espaço para a impunidade; que se convençam todos de que política é coisa séria e deve ser feita por gente séria – e há gente séria entre os atuais políticos; e, fundamentalmente, que a cidadania exercida pelos brasileiros nas manifestações de rua e nas redes sociais em favor da Operação Lava Jato se confirme nas urnas das futuras eleições, banindo da vida pública os políticos que nos arruinaram e escolhendo líderes que honrem, perante a história, as gerações atuais. Só as urnas podem reformar o país.
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