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Opinião do dia 2

As incertezas do orçamento

"Muito mais difícil do que enfrentaras incertezas conhecidas édefrontar-se com as desconhecidas, quando não se sabe sequer quais as alternativas possíveis"

A crise econômica mundial pegou as empresas em um momento delicado. Mesmo as que não foram diretamente atingidas pela instabilidade das bolsas e dos mercados, encontram-se num difícil dilema. Como planejar 2009? Este é exatamente o momento em que boa parte das empresas está discutindo o seu orçamento, com previsões de receitas e de despesas.

O processo ocorre como um ritual todos os anos. As áreas comerciais são invocadas a fazer previsões de receitas. Os acionistas esperam sempre um crescimento superior ao mercado, uma vez que este índice seria quase que uma obrigação da gestão de vendas. Fazer este tipo de previsão é sempre delicado. Por definição, os vendedores devem ser ousados, confiantes no futuro, capazes de superar desafios. Pega mal para um profissional de vendas ser conservador. Além disso, uma previsão de baixo crescimento ou de queda poderia contradizer a boa imagem do trabalho que está sendo feito. Pode ainda se tornar uma profecia autorrealizável, em que uma previsão de baixos resultados coopera para que eles aconteçam.

No entanto, ser ousado nesta hora pode custar ter de conviver com metas elevadas por todo o ano seguinte, e com todas as consequências de quem não as atinge. A memória dos acionistas e da direção é curta para estas coisas e certamente ninguém mais se lembrará do cenário em que as previsões foram feitas e o quanto elas podem ter sido audaciosas.

Além disso, de certa forma, o orçamento costuma "autorizar" despesas e investimentos. A partir de sua oficialização, elas costumam ser quase certas (o contrário da receita, que é sempre incerta), podendo ser ainda maiores, para o caso de insumos que dependem do dólar ou da volatilidade do mercado internacional. Para estes casos, aliás, os custos já estão em patamares muito elevados, o que torna ainda mais difícil o exercício de fazer um orçamento com EBTDA razoável.

Como apoio mútuo, os gestores comerciais de setores afins buscam ouvir uns aos outros, no mínimo, para que a previsão de um sirva de referência para o outro. Na prática, encontram-se na mesma situação e pouco podem se ajudar. O mesmo ocorre com os especialistas econômicos e mesmo os clientes que, se perguntados, tendem a estar na mesma circunstância.

O professor José Santos, professor português de Gestão Internacional da Escola de Negócios Insead na França, em palestra recente no Congresso Nacional de Jornais, afirmou que "muito mais difícil do que enfrentar as incertezas conhecidas é defrontar-se com as desconhecidas, quando não se sabe sequer quais as alternativas possíveis". Neste caso, complementa o professor: "só o nosso julgamento interior pode nos servir de guia". Seria 2009 um ano de incertezas desconhecidas?

Ainda que apostas precisem ser feitas, ao menos para cumprir o ritual orçamentário, o futuro parece mais incerto do que foram os últimos quinze anos, quando o Brasil conquistou a estabilidade econômica. Algumas crises ocorreram neste período, mas nenhuma delas gerou tantas incertezas.

Em outros tempos, os brasileiros costumavam se orgulhar do "jeitinho" que, fugindo de seu sentido pejorativo, poderia ser traduzido como criatividade e flexibilidade. O momento exige mais do que isso. Preparo técnico, esforço adicional e capacidade de resistência aos obstáculos são apenas algumas das novas exigências. Elas se somam à criatividade e à flexibilidade, que precisam ser direcionadas para a inovação, em suas diversas aplicações. O futuro incerto exige que decisões sejam tomadas e revistas a cada passo, trazendo a estratégia para mais junto da operação, do mercado, do cliente.

O orçamento de 2009 das empresas mais competitivas deverá ser composto por elementos aparentemente antagônicos como: ousadia e moderação; previsão e flexibilidade; foco na estratégia e na operação. São elementos que, embora contrários, podem se complementar e potencializar. De comum, com o de sempre, está o fato de o indivíduo fazer a diferença. O indivíduo gestor e o indivíduo cliente, que é quem tem a palavra final de qualquer orçamento.

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