Na maioria das vezes, o debate quanto à utilização ou não de animais em testes inicia antes mesmo de se discutir o assunto. De um lado, pessoas preocupadas em debater os rumos e limites do desenvolvimento através das ações humanas e, de outro, um grupo de estudiosos, detentores de técnicas e diplomas, que pretende estabelecer entre si quais são esses rumos e limites.

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Com a invasão, por parte de ativistas, do Instituto Royal, a discussão se acendeu em nosso país e, ao defender suas posições, pesquisadores tentam desqualificar a opinião de pessoas leigas quanto ao tema como se nada tivessem a acrescentar ao debate. Entretanto, pode ser que o grande público não conheça os detalhes da utilização de animais em pesquisas e muito menos seus obscuros resultados, mas não é preciso ser um especialista para opinar contra ou a favor do uso desses animais como meras ferramentas de trabalho, destituídas de interesses e desprovidas de sentimentos como a dor e o sofrimento. Desta forma, deixo claro que o fato de não ser um experimentador não desqualifica qualquer pessoa a dar sua opinião quanto ao uso de animais em pesquisas.

Não é difícil questionar a eficácia dos experimentos científicos, já que as grandes catástrofes farmacológicas foram previamente testadas em animais. Técnicas medicinais com graves erros e irreversíveis, além de uma série de substâncias altamente tóxicas e prejudiciais à saúde humana, mas que somente daqui a alguns anos serão detectadas – perceba a quantidade de medicamentos que são retirados das prateleiras de tempos em tempos por problemas, muitas vezes fatais, não previstos – apontam esses testes como uma provável falácia científica para nosso moderno mundo do século 21.

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Para exemplificar, podemos citar Albert Sabin, que declarou que as primeiras doses da vacina contra a pólio aplicadas em seres humanos mataram as pessoas que as receberam, mas nada havia acontecido nos testes anteriores com animais. Além disso, tudo nos leva a crer que diversas drogas que poderiam estar salvando seres humanos não tiveram seus estudos concluídos por causa de resultados negativos em pesquisas com animais.

Outro ponto muito questionável é que, mesmo entre humanos, as reações a determinadas substâncias são diversas por causa de inúmeros fatores biológicos característicos de cada indivíduo. Como o médico americano Ray Greek cita em seus artigos, a própria indústria farmacêutica já assumiu a eficácia média de suas drogas em 50% das pessoas, podendo ser maior ou menor em determinados casos, sendo uma exigência da ciência médica a eficácia em 90% dos casos.

Entretanto, mais importante que isso é entendermos o fundamento da objeção pela experimentação animal, independentemente de seus resultados. Pois uma pergunta deve ser obrigatoriamente respondida para assumirmos uma ou outra posição: se, para pesquisadores, animais são semelhantes aos humanos em suas reações e sensações, não deveriam ter semelhantes considerações relativas aos seus interesses de não serem submetidos à dor, ao trauma físico e psicológico, à humilhação, ao temor, à morte com hora marcada, assim como se considera os interesses de seus "semelhantes" humanos? É difícil imaginar uma resposta a tal questão que defenda a pesquisa em animais sem que sejam usados argumentos que passam pela incoerência e pela tendenciosidade.

Apesar disso, a velha e antiquada filosofia médico-científica perpetua, através da pseudoautoridade do conhecimento, a ideia de que animais são "pequenos humanos" devido a essas semelhanças. Não são poucos os ativistas e pesquisadores contrários aos testes em animais que dizem: os testes em animais servem para evitar processos milionários a que pesquisadores e empresas responderiam pelas reações adversas e muitas vezes irreversíveis e mortais aos seres humanos, quando do uso de seus produtos e técnicas pelos consumidores. É um "certificado de garantia", tendo respaldo de seus protocolos e "códigos de ética" por eles mesmos criados, de terem sido previamente testados. Ou seja, "lavamos nossas mãos, pois fizemos nossa parte".

Diante desse cenário, da incoerência e da resistência a novos conceitos, podemos observar a triste, mas real situação de adultos que, quando crianças, pediam a seus pais permissão para levar para suas casas um "vira-lata" ou um gato abandonado por compaixão, mas que hoje, através de uma cultura de continuismo e retrocesso alimentada por mestres e doutores, submetem ratos, gatos, porcos, sapos, cachorros, coelhos e outros animais a verdadeiras sessões de tortura – desde privações das necessidades básicas até mesmo órgãos abertos e fraturas, entre outras intervenções contra seres que nada têm a ver com suas práticas.

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Quantos não são aqueles que, com extrema aptidão a profissões relacionadas à medicina ou à veterinária, entre outras, abandonam seus sonhos ao verem que para isso terão de abrir mão de sua sensibilidade e respeito para com os animais? Diversos são os estudos que demonstram como os próprios estudantes, quando expostos pela primeira vez a tais circunstâncias, sentem-se incomodados e contrariados, mas que por vergonha e medo de serem excluídos do grupo submetem-se ao processo "invisível" da dessensibilização ou abandonam seus cursos, sob desdém de muitos de seus colegas e professores.

Talvez uma frase de Thomas Edison, famoso cientista americano, resuma por que cada vez mais pessoas desaprovam a experimentação animal: "A não violência nos leva à mais alta ética, a qual é o objetivo de toda a evolução. Até pararmos de ferir outros seres vivos, seremos ainda selvagens".

Ricardo Laurino, autor de O Último Teste, que aborda a experimentação científica em animais por meio de ficção policial.