As chamadas artes marciais mistas (MMA) e os espetáculos das grandes lutas internacionais podem parecer demasiado violentas para o observador pouco familiarizado e para a sociedade como um todo. Porém, o número de pessoas que gostam e que são capazes de defender o seu interesse por essas lutas é cada vez maior.

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O que pensar a respeito desse gosto um tanto mórbido pelo confronto direto entre dois seres humanos? De que forma esse fenômeno contemporâneo pode ser analisado sob a ótica dos direitos humanos?

MMA não é simplesmente violência gratuita motivada pelo gosto por sangue dos espectadores

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Embora alguns possam acusar os espetáculos de MMA de promoverem deliberadamente a violência e, por consequência, incentivar comportamentos violentos entre os jovens, os efeitos de tal exposição não são tão simples assim. Poderíamos, por outro lado, considerar que assistir a cenas de violência deliberada nos ajuda a controlar o impulso de agressividade em nossa vida cotidiana, por meio de um processo catártico.

Para Aristóteles, este seria o efeito da exposição à violência nas tragédias gregas da antiguidade, uma espécie de purificação da alma por meio de uma descarga emocional que favorece a coesão do corpo político da sociedade e faz com que a violência entre os cidadãos seja controlada.

Nessa perspectiva, as lutas de MMA teriam um efeito positivo para a vida em sociedade, uma vez que nos ajudaria a lidar melhor com nossa própria agressividade, fazendo com que ela seja extravasada por meio da exposição às cenas de violência. Em resumo, espaços controlados para a manifestação do impulso à agressividade seriam benéficos para evitar o conflito e a agressão entre os cidadãos. Afinal de contas, a profissionalização dos atletas e o respeito mútuo que muitas vezes se evidencia após as lutas contribuem para uma imagem menos relacionada à selvageria na qual muitas vezes tentam enquadrar o esporte.

De fato, tendo em vista as regras rígidas e o controle dos danos mais graves para a saúde dos atletas, existem elementos suficientes para considerar que a luta de MMA não é simplesmente violência gratuita motivada pelo gosto por sangue dos espectadores. Isso faz com que em si mesmo não possamos criticar o esporte por algum tipo de violação dos direitos humanos, uma vez que se trata de violência controlada sob a qual os atletas deliberadamente concordam em participar.

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Contudo, esta parece ser apenas uma perspectiva sobre o fenômeno, um tanto razoável até, mas que ignora outros aspectos que sugerem um caráter não tão positivo para o atual nível da espetacularização das lutas.

Tal esporte, assim como o futebol, é uma espécie de manifestação febril da sociedade brasileira, o que não o torna condenável em si, mas deve nos fazer refletir sobre seus efeitos quanto à alienação do povo brasileiro e, por consequência, seu papel quanto as dificuldades de concretização dos direitos humanos que decorrem da falta de interesse por questões sociais e políticas.

Rodrigo Alvarenga, mestre em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, é coordenador do grupo de estudo Direitos Humanos, austeridade e constituição: conflitos e tensões contemporâneas e professor PUCPR.