A oposição deve guardar seus foguetes para não cair no erro da precipitação. Em tempos contraditórios como o que estamos atravessando – com pequena queda dos índices de popularidade do presidente Lula nas últimas pesquisas, debitadas às inacreditáveis trapalhadas dos irresponsáveis pelo controle aéreo e a reincidente bagunça dos atrasos de horas que viram madrugada nos aeroportos afetados por greves em série –, é natural que as lideranças oposicionistas comemorem a instalação de uma ou duas CPIs: uma no Senado, com a entrega do pedido com sobra de assinaturas; outra na Câmara, que também quer o seu show. CPI demais pode embrulhar o estômago e provocar azia.

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É ainda incerta a reação da opinião pública, paralisada no seu desencanto com a desmoralização do Congresso, nos estertores de uma das mais graves crises de sua crônica de altos e baixos. Claro, parece razoável acreditar que ela tende a concordar com a reação do minoritário bloco oposicionista, ainda sangrando com as baldeações dos ladinos para o generoso latifúndio governista, atraídos pelos milhares de cargos para distribuir às mãos cheias, para os que prometam votar nos projetos palacianos e não aborrecer o presidente com picuinhas e exigências. Cada um que pegue o mimo e lamba os beiços.

Bastou partir para a ofensiva para melhorar o clima soturno do bloco dos tucanos e dos ex-pefelistas que estréiam a nova sigla: são os Democratas (DEM) de roupa mudada. Os holofotes do palco iluminado, dezenas de câmeras de TV, repórteres amontoados por todos os cantos são lembranças que acariciam as mágoas dos que as urnas negaram as venturas da fruição do poder.

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São muitas as incertezas no roteiro das esperanças. De saída, convém podar expectativas encharcadas de otimismo: a fase dourada das CPIs dos Correios, do mensalão, do caixa 2, das ambulâncias superfaturadas, da orgia dos milhões de dólares nas contas fantasmas do exterior terminou da maneira mais melancólica e desonrosa, com as absolvições por atacado pelos acordos por baixo do pano; na impunidade que esvaziou as cadeias e o retorno triunfal de maioria embrulhada pela insensibilidade do eleitorado, desatento e desinteressado.

Mais do que a confirmação do baixo nível ético que contamina o Congresso como praga incurável, o 1% do índice de credibilidade do Parlamento, registrado pela recente pesquisa, adverte as reservas morais que ainda resistem ao descalabro, para as dificuldades de uma recuperação do mais democrático dos poderes.

A instalação das CPIs do Apagão Aéreo é um dever de casa da oposição. Tão legítimo quanto o esforço do governo para abortá-las. Pois, mesmo com as debilidades do Congresso enfermo, os riscos do inesperado estouro de um novo escândalo escondido basta para povoar de fantasmas o sono dos que dormem na maciota dos colchões oficiais.

A aragem mudou de direção e vem castigando o presidente Lula e seus ministros que escapam do bolo dos incógnitos com seguidos puxões de orelha. A cada dia, a sua provação: dos excessos das invasões de fazendas e da ocupação de prédios públicos no abril vermelho do MST às enchentes que inundam várias áreas do país e expõem a deficiência da rede rodoviária, a precariedade morosa dos socorros e a surpresa dos serviços públicos corroídos pelas deficiências crônicas.

Mas, devagar com a louça. As CPIs do Apagão não repetirão o sucesso de emoção nacional do seu grande momento na crista da esperança – nem estão condenadas, por antecipação, ao fracasso.

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Os que assumiram a iniciativa de brigar pela sua instalação devem saber o que fazem e dispor de informações para as denúncias que renovem o repertório do já conhecido e apurado pela Justiça, a Procuradoria-Geral da República, a Promotoria Pública, a Polícia Federal que estão vivas e apresentando um trabalho de encher as medidas.

Quem não pode com o pote não pega na rodilha, ensina e adverte a sabedoria do povo. E só 1%, vizinho do traço, confia no Congresso.

Villas-Bôas Corrêa é analista político.