Tudo parecia armado para a reedição dos conhecidos equívocos que levam a humanidade às crises econômicas e ambientais recorrentes. Já se banalizavam as terríveis consequências sociais do êxodo dos sírios cruzando a Europa, para renovar a vida em estado de paz. Crises localizadas e políticas tenebrosas em países como Grécia e Brasil – e, ameaçadoramente, na China – abalavam as esperanças de uma economia internacional humanizada. Insistentes, mudanças climáticas marcavam com tragédias coletivas os quatro cantos do planeta. Nessas condições a ONU convocava os Estados membros para uma assembleia em Nova York.
Em torno do 27.º Domingo do Tempo Comum, data da inauguração do evento, apareceu no céu um misterioso desenho formado por uma superlua em eclipse. Metafórica representação da inutilidade da abundância em tempos de escassez de recursos naturais. Acumulação descontrolada de riquezas sem água para beber, sem ar para respirar, sem energia para produzir, não vale absolutamente nada.
Sob essas mesmas influências, chegou a Nova York o papa Francisco, a propor melhor trato com a justiça social e mais cuidado com o planeta, cujos comprometimentos atuais têm as mesmas causas. Para revertê-las, o papa Francisco propõe ações concretas, com argumentos fortes e docemente convincentes na Laudato si’, sua encíclica inspirada no Cântico das Criaturas do seu arquétipo espiritual, São Francisco de Assis. Assim movimentou a opinião pública reacionária a formas de desenvolvimento sustentável e deu o tom conceitual para a 70.ª Assembleia Geral da ONU, à qual acorreram chefes de Estado e representantes de mais de 150 países-membros, inclusive o Brasil.
Para cumprir os compromissos, o Brasil deverá contar com a participação ativa do consumidor de energia
Entre declarações de princípios como solidariedade, paz mundial, equidade de gênero e outros, destacam-se na fala da presidente Dilma Rousseff, que nos representou, os compromissos com a estabilidade econômica, com a adequação da infraestrutura e, especialmente, com a intensificação do uso de fontes renováveis de energia, como meio de reduzir as emissões de gases do efeito estufa, para conter em 2º C o aquecimento global. Esta, uma opção política que pode determinar um novo modelo de desenvolvimento econômico para o Brasil, com as amplas cadeias de suprimentos industriais, comerciais e de serviços que cada fonte energética determina, somadas aos próprios resultados econômicos do novo modelo com elas construído.
Nossa Pretendida Contribuição Nacionalmente Determinada (INDC) é de reduzir em 43% as emissões de gases do efeito estufa até 2030, com base nos registros de 2005. Construiremos, neste período, um cenário sustentável para a produção de alimentos e energia, intensificando a resiliência dos solos, da água e da biodiversidade, com sistemas de produção baseados em baixas emissões de CO2. Nossa disponibilidade interna de energia deverá ser garantida por 45% de fontes renováveis. Em energia elétrica, o compromisso é de gerar até 66% com a fonte hídrica e 23% com as outras renováveis como eólica, solar e biomassa. Em combustíveis, garantimos a participação de 16% do etanol carburante, sem nem ter tido de falar em biodiesel e biometano. Tudo associado de forma sinérgica ao aumento de 10% de eficiência energética geral do sistema. Números possíveis, pois, quando mobilizadas em condições tropicais, as fontes de energia renováveis apresentam resultados altamente competitivos em comparação a quando aplicadas em clima temperado e frio.
Mas, para não passarmos vergonha em 2030, vale torcer para que a presidente Dilma tenha considerado que, além das iniciativas do setor energético, para cumprir os compromissos, o Brasil deverá contar com a participação ativa do consumidor de energia. Doméstico, industrial ou rural, e conectado a um sistema descentralizado, paralelo e complementar ao sistema convencional, será esse consumidor que acionará os interruptores evitando desperdícios, trocará lâmpadas e motores em busca da eficiência, mobilizará fontes renováveis locais adequadas às suas próprias necessidades. E mais: será esse consumidor-gerador que, tendo valorizados seus ativos energéticos, viabilizará os investimentos para a implantação dos sistemas renováveis.
Teremos só 15 anos para fazer isso acontecer.
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