Em 9 de março de 2020, 10 horas da manhã, a bolsa de valores abre em forte baixa, o indicador da bolsa, o índice Bovespa começa a mostrar que estamos próximos de uma interrupção temporária das negociações, conhecida como circuit breaker (esse mecanismo é acionado quando o Ibovespa, cai mais de 10% em relação ao fechamento do dia anterior), o VIX, mais conhecido como índice do medo dos investidores americanos dispara, as bolsas do mundo caem sistematicamente, o coronavírus se torna uma ameaça real para todo o mundo financeiro.
Como é previsível no ser humano, uma das forças que movimentam todos nós é o medo, o que representa que, no mundo financeiro, se adotem posturas mais defensivas, por exemplo: o aumento da procura pelo dólar e o ouro o que leva a um incremento no preço desses ativos. Os investidores trocam de postura, vendem suas ações e se preparam para o pior. Toda essa movimentação, previsível faz com que as aplicações de renda variável tenham perdas consideráveis. Depois de chegar a 119 pontos (crescimento recorde), em janeiro desse ano, a bolsa de São Paulo caiu para 63 mil em março, uma queda de quase 50%.
Imagine, o que representaria para você perder, em menos de três meses, a metade do seu patrimônio aplicado?
Só em março desse ano, a bolsa teve seis circuit breakers, um recorde histórico. No espírito de entender o que um investidor novato sente nos momentos de mais medo, perguntei para vários amigos qual foi a sensação vivida, quando estes viram seus recursos investidos se diluírem. O Dário me disse ter sentido pavor, receio, porém, mesmo vendo a sua carteira perder valor, ele lembrou de uma das recomendações que lhe deram: "não mude a regra no meio do caminho". O Giancarlo, que aplica numa grande corretora, também não mexeu na sua carteira, mesmo sentindo-se tentado a fazê-lo, não quis contradizer seu gestor de investimentos. O André, que entrou recentemente na bolsa, disse que, quando estava sentindo ainda a experiência da bolsa, veio o caos. Quis vender tudo, mas não o fez. O momento de pânico serviu de estímulo para estudar ainda mais sobre bolsa. Ele percebeu que não era a primeira vez que isso acontecia e que talvez, não seja a última. O José Ricardo, que aplicou parte da sua aposentadoria na bolsa, se encheu de coragem, e, mesmo no meio do pânico, foi às compras. Ele tem a seguridade que, em longo prazo, a bolsa sempre se recuperará e tenderá a crescer. O Ricardo, foi atrás de conhecimento e decidiu montar uma carteira de investimentos sozinho. Aproveitou que o valor das ações estava baixo. Porém, o João não teve a mesma sorte, quando viu que seus investimentos começavam a perder valor, os liquidou, realizando o prejuízo.
Estamos ainda no meio da pandemia, a economia está sofrendo sérios problemas que talvez somente serão superados em anos, afinal, há muito tempo a humanidade não experimentava uma crise sanitária dessas proporções desconhecidas. Mesmo assim, a bolsa já voltou a passar os cem mil pontos; de todos os amigos entrevistados que mantiveram suas posições, todos já recuperaram seus investimentos.
Em fevereiro, nesse mesmo espaço, escrevi um artigo que intitulei: "Fujam para a bolsa com coronavírus e tudo" e hoje reafirmo essa posição. Em tempos de taxas de juros negativas que os investimentos em renda fixa oferecem, a melhor opção é abrir novas perspectivas de investimentos, mesmo que os riscos aumentem. Nesse caso, o conhecimento é a chave para diluir medos. A bolsa voltará a cair mais vezes, poderemos a ter circuit breaker, tudo faz parte do ciclo econômico, faz parte da vida. Mesmo nas noites mais escuras que essa pandemia pode nos dar, é possível enxergar estrelas brilhantes, só tem que saber observar.
Hugo Eduardo Meza Pinto, economista e doutor, é professor da Faculdade Estácio Curitiba e associado da empresa de Economia Criativa Amauta.