Embora fossem consideradas radicais em seu tempo, as sufragistas norte-americanas foram incansáveis em sua luta para transformar a política do país e fortalecer as mulheres com o direito ao voto. O ano de 2020 marca o centenário de sua vitória naquela batalha e, se temos motivo para comemorar, a data também nos lembra que precisamos continuar o trabalho dessas pioneiras do feminismo.
Além do direito ao voto, a sufragistas defendiam direitos para os negros, igualdade na educação, pagamento igual para trabalhos equivalentes, e o direito à vida para os não nascidos. Ao contrário de muitas feministas radicais da segunda metade do século passado e deste século, aquelas mulheres sabiam que o aborto não as fortalece. Em homenagem a essas sufragistas, o tema da 47.ª Marcha pela Vida será “A vida empodera: ser pró-vida é ser pró-mulher”.
As sufragistas americanas se espelhavam no exemplo de suas predecessoras e uma inspiração especial era a filósofa, autora e feminista inglesa Mary Wollstonecraft. Nascida em Spitalfields (Londres), em 1759, Wollstonecraft começou a pedir igualdade para as mulheres muito antes do auge do movimento sufragista nos Estados Unidos. Ainda que ela seja mais conhecida por ser a mãe de Mary Shelley, autora do clássico Frankenstein, ou o Prometeu moderno, Wollstonecraft era ela mesma uma escritora de destaque. Seu trabalho mais famoso, Reivindicação dos direitos da mulher, foi publicado em 1792 e popularizado, muitas décadas depois, pelas sufragistas americanas Elizabeth Cady Stanton e Susan B. Anthony em seu jornal Revolution.
Assim como Mary Wollstonecraft, as feministas pró-vida de hoje trabalham para transformar nossa cultura de modo que ela seja tanto pró-criança quanto pró-mulher
Wollstonecraft defendia uma reforma na educação como meio de fortalecer as mulheres, alegando que o sistema educacional tinha sido desenhado para oprimi-las, prejudicando sua formação de uma forma que as impedia de desenvolver-se como esposas e mães, além de barrar sua presença em muitos campos profissionais. Ela acreditava que mulheres empoderadas abraçariam a maternidade e descrevia como “independentes” as mulheres que davam conta de suas responsabilidades. Segundo Wollstonecraft, o primeiro dever das mulheres era “consigo mesmas enquanto criaturas racionais”, e o segundo, “enquanto cidadãs, é o de mãe, que inclui tantos outros deveres”.
Wollstonecraft via o aborto como uma consequência depravada do fracasso da sociedade em reconhecer o valor intrínseco das mulheres, bem como da atitude predominante pela qual as mulheres deveriam ser objetificadas e subjugadas pelos homens. Ela descrevia as mulheres e crianças como vítimas desse fracasso em valorizar as mulheres e a maternidade: “Com as mulheres tornando-se, consequentemente, mais fracas de mente e corpo (...) elas não têm força suficiente para cumprir o primeiro dever de uma mãe; e, sacrificando a afeição parental, que enobrece o instinto, em favor da lascívia, ou destroem o embrião no ventre ou o descartam após o nascimento”.
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Ela não apenas promoveu o ideário pró-vida em seus escritos, mas também assumiu, em sua própria vida, os sacrifícios sobre os quais escreveu, sendo mãe solteira e tendo sua primeira filha, Fanny Imlay, fora do casamento, apesar da condenação da sociedade. A partir de sua experiência como mãe, Wollstonecraft afirmou que uma melhor educação para as mulheres permitiria que as gerações futuras prosperassem. Ela escreveu que criar as próximas gerações de crianças “tem sido ressaltado corretamente como o destino peculiar das mulheres” e, portanto, “a ignorância que as incapacita deve ser contrária à ordem natural das coisas”.
Assim como Wollstonecraft, as feministas pró-vida de hoje trabalham para transformar nossa cultura de modo que ela seja tanto pró-criança quanto pró-mulher, reconhecendo que o aborto viola a maternidade e prejudica o empoderamento feminino. Desde 1973, o aborto nos Estados Unidos eliminou mais de 60 milhões de vidas e machucou milhões de mães neste processo.
O direito ao voto para as mulheres já foi visto como uma ideia radical, mas hoje o consideramos algo perfeitamente natural. Esperamos ver, um dia, um mundo no qual promover a dignidade de toda vida humana, tanto da mulher quanto de seu filho não nascido, também não seja mais considerado algo radical.
Jeanne Mancini é presidente do Fundo para Educação e Defesa da Marcha para a Vida. Alexandra DeSanctis escreve para a National Review. Tradução: Marcio Antonio Campos.
© 2020 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.