Estudos internacionais apontam para as tendências do ensino nos próximos anos – e décadas. Em recente conferência da Stanford Graduate School of Education e pesquisa da Future Learn realizada na Inglaterra, nos dão uma ideia do que teremos pela frente em termos de educação.
O avanço tecnológico e a pandemia colocaram à prova modelos tradicionais de ensino e modelos de estudo que já estavam agonizando. Como toda crise, essa fase mundial que passamos foi um grande cenário de estudos para a prática de ideias que vinham sendo analisadas para o setor de educação. Após terem sido colocadas em prática, eis as novas tendências para o setor educacional, como a inclusão global no ensino.
Partindo de países emergentes, destacadamente a Índia, verifica-se rápido aumento na qualidade do aprendizado e a formação de profissionais mais qualificados no mercado. Pobreza não é sinônimo de pouca capacidade intelectual, mas de falta de oportunidade. Esse é o desafio maior de governos e instituições de ensino: transformar o acesso à educação. Com a inclusão o desenvolvimento social virá muito mais rapidamente.
Outra tendência é “parar jamais”. Um termo que já ficou conhecido é o lifelong learning, modelo de estudo que dura a vida toda. É um termo para explicar a educação contínua. O que lá atrás eram cursos de pós esporádicos, agora é a formação em blocos ou etapas por toda a vida. Percebeu-se que a graduação forma o profissional baseado em conceitos genéricos, uma visão das possibilidades dentro da carreira escolhida, mas sem o tempo necessário para aprofundamentos. O aprofundamento, o desenvolvimento em novas habilidades então passam a ser contínuos. Através de cursos de curta duração ou especializações mais formalizadas. Entre as pessoas que mudaram suas carreiras, segundo a pesquisa Future Learn, 76% afirmam que o estudo continuado foi decisão marcante para serem contratados. E 33% escolheram plataformas on-line para aprender novas habilidades.
Também é uma tendência a customização. A utilização de métodos avaliativos unidos ao desenvolvimento computacional permite a elaboração de práticas e exercícios personalizados, específico para a necessidade de cada aluno. Um exemplo: lista de exercícios focada em uma disciplina. O aluno começa resolvendo certo número de questões, e dependendo do resultado obtido, novas listas de exercícios complementares vão sendo adicionadas, para focar nas deficiências apresentadas. Robôs e algoritmos são utilizados nesse método avaliativo. KiranTrehan, acadêmica e diretora do centro para mulheres empreendedores da Universidade de York, afirma que a “abordagem igual para todos não vem mais de encontro às nossas aspirações. Já gostamos da ideia de aprender quando queremos, e o que queremos”.
A flexibilidade e desterritorialização é um dos itens que mais ficou evidente nos últimos três anos. Deixamos de ir ao local de ensino, para o ensino ir até nós. Não é incomum, no retorno do trabalho, dentro dos ônibus, vermos “alunos” conectados através de seus smartphones a aulas, seminários, apresentações e outras formas de ensino. O uso das tecnologias disponíveis juntamente a uma boa estrutura de ensino usando também essas tecnologias, faz do ensino a distância o destaque do momento. Várias metodologias são aplicadas atualmente. 81% das pessoas que iniciaram novas carreiras na pesquisa da Future Learn usaram o apoio de cursos on-line. Mike Zealley, da KPMG Learning, afirma que “a entrega da educação virtual veio pra ficar. Acho necessário um redesenho do velho e truncado aprendizado, que já está provavelmente ultrapassado”.
O uso do metaverso igualmente parece uma tendência irremediável. O destaque de 2022 foi a discussão de uma série de possibilidades de imersão na virtualidade, que promete um universo paralelo – o metaverso conforme ficou conhecido. Alguns setores já se aproveitam mais do tema que outros. Acompanhamentos cirúrgicos e procedimentos de saúde prometem uma revolução. O aprendizado através de jogos não é uma novidade, mas se utiliza das tecnologias virtuais, dando uma roupagem nova aos processos lúdicos. Várias promessas despontam.
Há também a chamada inversão metodológica. Vindo em uma tendência desde a final da década de 1990, o visual vem primeiramente, para depois ir no sentido do textual. Nesse sentido, as imagens linkadas aos produtos do metaverso começam a ser vistos como protagonistas educativos: avatares, jogos coletivos, gamificação de teorias. Novos processos educativos, se aproveitando do processo cognitivo dos alunos para experiências inovadoras no campo educativo. Em si, a ideia do metaverso rompe barreiras limitantes do mundo físico do aluno, que sendo bem utilizado pelos educadores, pode incentivar alunos a irem muito além em desenvolver estudos e pesquisas, por exemplo.
Outro ponto importante é que o atendimento igual para todos tem seus dias contados. O aluno não quer mais um atendimento, mas uma experiência cheia de satisfação: na qualidade dos produtos acadêmicos, na qualidade da apresentação dos conteúdos, na eficiência do aprendizado, e ser bem atendido, bem acolhido. Com tanta tecnologia, esse item se destaca pelo processo inverso, a busca da humanização, para não ser mais “um número” nas instituições. É um estreitamento personalizado e único para cada elemento dentro da comunidade educacional.
Se no século XX a perspectiva de um funcionário era passar por um a quatro empregos em sua vida, o século XXI está oferecendo de três a sete profissões diferentes para o mesmo indivíduo. Uma nova jornada de experiências (um reforço para o lifelong learning) e campos de atuação. Áreas do direito nunca exploradas, medicina com nanotecnologia, produções de conteúdo para mídias sociais, são apenas algumas novas oportunidades surgindo em apenas poucos anos. Métodos de ensino focam mais em formas de aprendizado (o que pode vir) do que conceitos congelados. Kairen Cullen, psicóloga educacional, afirma que “estamos preparando nossos jovens para serem capazes de diversificar, trabalhar em diferentes campos e fazer mudanças durante suas vidas”.
Novas formas de empreendedorismo surgem com as perspectivas citadas acima. Empresas que oferecem soluções a essas novas demandas – as edtechs, são destaque. A chamada IA – ou em inglês Artificial Intelligence, junto com as Machine Learning Analytics (conhecidos em português como Modelos de Análise Preditiva) estão revolucionando como conversamos com os humanos no ambiente das redes sociais, na publicidade, energia, espaço aéreo, e muitos outros campos. Novas configurações surgem a cada dia. Novas demandas aparecem. Já se fala na “uberização” da educação, onde o professor passa a ser um tutor influencer. De uma sala com 40 alunos, passa a ter milhares de pupilos, numa estrutura moldada e escolhida por cada um.
O mercado está agitado. A educação está tirando o atraso das necessidades empresariais. Está visualizando um futuro mais integrado, mais tecnológico, mais inclusivo, mais humano. E tudo isso é possível sim. Por mais paradoxal que pareça, a tecnologia, bem utilizada e aplicada baseada em conceitos humanos, pode extrair muito mais de nossa sociedade e buscar, sempre de forma utópica, um futuro melhor.
Alexandre Machado Frigeri é doutor em Semiótica – Cibercultura pela PUC-SP e diretor da Faculdade Estácio de Curitiba.
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