Podemos dizer que as grandes privatizações no Brasil tiveram início no governo Collor, com seu PND, que vendeu 15 empresas estatais, e seguido por Itamar, que vendeu outras 18 em seu resto de mandato. Já FHC quebrou diversos monopólios estatais para dar ainda mais espaço às privatizações no país. Vendeu em oito anos dez empresas, dentre elas gigantes como a Vale do Rio Doce, Telebrás e Banespa, e fez cinco concessões rodoviárias e sete ferroviárias.
Isso não foi exceção nos governos petistas. Lula vendeu a primeira empresa estatal em 2004, o Banco do Estado do Maranhão, seguido pela venda do Banco do Estado do Ceará. Também foram feitas oito concessões rodoviárias, que totalizaram 2,6 mil quilômetros. Já no setor petrolífero, Lula concedeu 706 blocos para extração petrolífera, quase 50% a mais que FHC. As concessões viraram o jeito petista de privatizar. Já Dilma vendeu mais estradas e colocou os aeroportos na jogada. Apresentou, em fevereiro de 2016, o que seria a maior onda de privatizações desde 1998, auge da política neoliberal de FHC, com a segunda etapa do Programa de Investimento em Logística (PIL). Mas o impeachment veio primeiro.
O brasileiro não parece mais enxergar na privatização uma solução para seus problemas
Nossos oito últimos governantes privatizaram bastante, cada um do seu jeito, isso não dá para negar.
No entanto, uma coisa mudou profundamente ao longo destes anos de privatizações: a opinião pública sobre o tema. Em 1995, uma pesquisa do Ibope mostrou que apenas 34% da população era contra privatizações. Já em 2007, uma pesquisa Ipsos mostrou que 62% dos brasileiros eram contra privatizações. Em 2015, segundo o Datafolha, 61% eram contra privatizar a Petrobras, empresa que era o epicentro das denúncias da Lava Jato. Isso se deve tanto pela sensação de que várias privatizações foram feitas para beneficiar amigos quanto pela desilusão sobre a “imprescindível” eficiência das empresas privadas, que verificamos em setores como o de telecomunicação e financeiro, oligopólios caros e problemáticos. O brasileiro não parece mais enxergar nisso uma solução para seus problemas.
Mas, sem preocupar-se com a opinião pública, Temer anuncia novas privatizações, agora retomando a venda direta de empresas, como a Eletrobras e mesmo a Casa da Moeda, onde se imprime o nosso real. Além disso, há dezenas de outros projetos de infraestrutura para conceder explorações nas áreas de saneamento, energia e rodovias.
É pouco, mas melhor que nada: Privatizações sem privatistas: o desafio de Temer (artigo de Lucas Berlanza, jornalista e escritor)
A isso junta-se grande parte da política econômica do governo Temer. No geral, segundo todas as pesquisas de opinião publicadas desde o ano passado, as grandes reformas propostas para “combater a crise” são enxotadas pela população: PEC do Teto dos Gastos, reforma trabalhista e reforma da Previdência. Em resposta, podem argumentar que a população não entende o sacrifício que deve ser feito para fazer a economia voltar a crescer. Mas há alternativas que não são nem discutidas: criação de uma nova faixa do Imposto de Renda para os mais ricos, que renderia R$ 10 bilhões anuais; volta do pagamento do imposto sobre dividendos, que renderia R$ 60 bilhões anuais; ou cortes dos supersalários do Judiciário.
O que realmente me preocupa é que a política econômica deve voltar a ser votada e aprovada pelos eleitores na urna, tendo como possível e perigosa consequência nosso retrocesso democrático no controle das políticas públicas do governo.