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| Foto: Karen Bleier/AFP

É bem verdade que a atual escalada na tensão internacional causada pela Coreia do Norte, aliada à instabilidade do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, resulta em uma grande ameaça à segurança internacional. Contudo, há outros elementos, não estatais ou nucleares, geradores de insegurança no plano internacional. É pelo menos esse o entendimento de uma parte considerável da população mundial.

No início do mês passado, o Pew Research Center, um centro de pesquisas com sede em Washington, divulgou um estudo acerca da percepção de indivíduos de diferentes países a respeito da segurança internacional. O resultado é um importante indicador das mudanças que o cenário internacional vem sofrendo ao longo dos anos, no que toca ao conceito em questão. Mais do que isso, é interessante notar que as percepções securitárias variam dependendo da parte do globo em questão. Por mais óbvio que tal evidência possa parecer, dificilmente as narrativas ou políticas públicas securitárias internacionais levam este ponto em consideração.

No passado, a segurança internacional ligava-se inevitavelmente aos Estados e à esfera militar

Em termos globais, o Estado Islâmico e as alterações climáticas aparecem no estudo como as principais ameaças à segurança internacional. Assim, a percepção acerca das principais ameaças securitárias internacionais atuais prende-se com um ator não estatal e com uma esfera não militar. Isso vai de encontro ao entendimento do passado, quando a segurança internacional ligava-se inevitavelmente aos Estados e à esfera militar. Há, contudo, uma distinção regional nesta percepção securitária. Enquanto a percepção do Estado Islâmico como a principal ameaça securitária concentra-se, sobretudo, nos Estados Unidos, em países da Europa, Oriente Médio e na Ásia, as alterações climáticas são percebidas como uma ameaça securitária, em especial, na América Latina e na África.

Em seguida, na lista de ameaças securitárias, aparecem os ataques cibernéticos e a condição da economia global. Nota-se, mais uma vez, que para os indivíduos ao redor do globo as principais ameaças à segurança internacional estão sobretudo em esferas não necessariamente estatais ou militares. Por um lado, a percepção relativamente aos ataques cibernéticos tem a ver com as ações de espionagem norte-americanas, de alcance global e atingindo inclusive aliados, reveladas recentemente pelo WikiLeaks recentemente. Por outro lado, é cada vez mais consolidado o entendimento de que a desigualdade econômica no âmbito internacional tem levado a extremismos e radicalismos em diferentes países. Não por acaso, o relatório do último Fórum Econômico Mundial de Davos caracterizou a desigualdade econômica como um grande risco global.

Do mesmo autor: A perigosa atualidade da pergunta de Garrett (1.º de março de 2017) 

Leia também:Trump esquenta o clima (artigo de André Ferretti, publicado em 2 de junho de 2017)

No Brasil, as três dinâmicas percebidas como as principais ameaças securitárias no plano internacional são, compreensivelmente, as alterações climáticas, os ataques cibernéticos e a economia global. Contudo, ainda são tímidas as ações do país, quando as há, para lidar com as mesmas. É desassossegador perceber o país ainda bastante vulnerável às alterações climáticas, à espionagem de grandes potências e ao extremismo em disputas eleitorais.

Ramon Blanco, doutor em Relações Internacionais, é professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), onde coordena a Cátedra de Estudos para a Paz.
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