Quem é a dona Fátima, uma senhora com 68 anos de idade, de Tubarão (SC), e que diz que "defecou" (na verdade ela usou outro termo) no banheiro do STF (Supremo Tribunal Federal)? No vídeo que circula nas redes sociais, ela grita que está "preparada para uma guerra". Defender golpe no Brasil é crime previsto na Lei 359-M, com pena prevista de quatro a 12 anos de prisão. Mas este é outro aspecto. O que quero destacar é o que leva uma senhora de 68 anos de idade, que provavelmente tem uma longa história, a defecar no STF e cometer crimes. A dona Fátima talvez tenha netos, filhos e uma família. Talvez tenha trabalhado durante muitos anos e provavelmente viva de uma aposentadoria.
Assisti a muitos vídeos de pessoas que diziam, verdadeiramente, que não sabiam por que estavam sendo presas. Muitas idosas, provavelmente sem nenhuma passagem por uma cadeia ou delegacia. Talvez nenhum processo. E algumas passarão algum tempo nos presídios da Colmeia ou Papuda, ambos em Brasília, até que suas situações sejam resolvidas. Em tese, poderão ficar mais de dez anos. Ou seja, até quase o final de suas vidas, para alguns. Gustave Le Bon, um intelectual francês nascido no século XIX, deveria estar vivo para analisar este contexto. Ele defende, em seu livro Psicologia das Multidões, de que as multidões representavam a explosão de um lado irracional.
Aqui está a essência da discussão. Boa parte desses males pode ser associado às redes sociais, que dissipam a ignorância. É como se uma dose de veneno (ou droga) fosse inoculada diariamente em cada uma daquelas mensagens de WhatsApp que a dona Fátima provavelmente recebia e repassava diariamente.
Os famosos grupos de WhatsApp. Muitas em tom de ironias, os famosos memes, que em muitos casos divertem, mas dissipam ideias (o que nós acadêmicos chamados de discursos) muitos poderosos. Cria-se uma lógica irracional que levou um dia a dona Fátima a embarcar em um ônibus em Tubarão, viajar milhares de quilômetros e invadir um prédio público. Isso não a inocenta, mas mostra a força de um meme, de uma brincadeira, de post, que inoculado diariamente cria uma verdade.
José Alves Trigo é professor de Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie, doutor em Análise do Discurso e analista político.
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