Quase todo mundo concorda em viver em um ambiente saudável e sustentável. Em combater a pobreza e as desigualdades e agir dentro dos princípios legais. E isso tudo pode ser resumido em três letras: “ASG” (ou, na festejada versão em inglês, “ESG”), que significam “Ambiental, Social e Governança” e traduzem, de forma resumida, um modo de viver e produzir respeitando os valores que acompanham a sigla e de reverter tendências para que possamos garantir a nossa existência futura e a das próximas gerações de forma equilibrada.
O que quase ninguém admite é que há um grande abismo entre discurso e prática, entre a intenção e a ação, e na própria atenção a cada uma das letras dos princípios de ASG. Apesar de ainda ser subestimada pela maioria, a urgência da necessidade de combater as mudanças climáticas é o tema que ganha espaço na mídia e em todas as discussões. O A, de ambiental, sobressai.
Vivemos isso mais recentemente, quando a crise hídrica tanto na geração de energia como na reservação de água focou o olhar da sociedade para temas como mudanças climáticas, transição energética, impacto nos recursos hídricos e preservação da biodiversidade. Aprendemos que, não importa onde você vive, as mudanças climáticas não têm fronteiras. Na verdade, não podemos mais chamá-las de mudanças climáticas e sim de “mudanças urgentes”, expressão já absorvida nas análises.
Esse processo disruptivo, essa urgência, tem de ser efetivado nas questões ambientais, mas precisa estender-se com igual intensidade também à diversidade, à inclusão social e às boas práticas de gestão, tanto pública como das empresas. E faremos isso somente se houver intencionalidade. Temos de ter a intenção para agir de forma diferente.
Se os desafios à frente são gigantes, também o são as oportunidades. Consolidar as trajetórias de uma economia verde, inclusiva e justa dá lucro. De acordo com a Bloomberg, plataforma mundial de informação econômica, em 2020 os fundos que investiram ou adotaram estratégias relacionadas ao ASG aumentaram seus ativos em 32%, na comparação anual, para um novo recorde de US$ 1,82 trilhão. Segundo números da Global Sustainable Investment Alliance (GSIA), que reúne organizações de investimentos sustentáveis em todo o mundo, há US$ 35 trilhões investidos em uma ou mais das cinco abordagens ASG, da mais pragmática à mais ativista. Segundo a Morningstar, que avalia fundos de investimento, existem US$ 2,7 trilhões em fundos que se vendem como ASG e operam realmente com lentes ambientais, sociais e de governança sustentáveis.
Há um claro movimento que está transformando o que era apenas tendência em realidade. Desempenhar uma gestão competente dentro dos princípios de ASG tornou-se indispensável. Precisamos repensar, rever, olhar de forma diferente o mundo ao nosso redor.
O desafio está em engajar todos. Promover uma agenda que compartilhe valores comuns. A janela temporal está cada vez menor. Desde que apareceu pela primeira vez o termo ASG, em 2004, adotado por um grupo de pesquisadores de um braço do programa ambiental da ONU que cuidava de finanças, o Unep-FI, o mundo assistiu a grandes catástrofes ambientais, ficou horrorizado com cenas e ações extremas de preconceito e perdeu bilhões de dólares em práticas de corrupção.
De 2004 até agora são 18 anos. Tempo suficiente para o surgimento de quase duas gerações. Nos últimos anos, com o avanço da tecnologia e novos estudos, estima-se que a duração de uma geração reduziu-se para dez anos. Todos nós, sejamos das gerações dos Tradicionalistas, Baby Boomers, Geração X, Geração Y, Geração Z, ou até a nova geração Alfa que está surgindo, precisamos nos voltar à agenda ASG.
A balança que equilibra, de um lado, os problemas crescentes e, de outro, as soluções que precisam ser implementadas de forma rápida e duradoura aponta que já passou do tempo de agir. Temos de discutir toda a pauta e todas as letras da sigla ASG com urgência e partir para a sua efetivação.
Vivemos, com intensidade, uma nova fase de investimentos ASG marcada pela necessidade de uma resposta mais ampla e rápida por parte de empresas e gestoras de recursos, o que aumenta o impulso para os investidores saírem do plano da ideia e partirem para a ação. É necessário intensificar esse diálogo.
Hudson José é jornalista, diretor de Comunicação e Marketing da Sanepar e membro do Comitê Estratégico de ASG na Companhia de Saneamento do Paraná.
Congresso frustra tentativa do governo de obter maior controle sobre orçamento em PL das Emendas
“Embargo ao Carrefour no Brasil inclui frango”, diz ministro da Agricultura
STF e Governo Lula se unem para censurar as redes sociais; assista ao Sem Rodeios
Procurador pede arquivamento dos processos federais contra Trump