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Até onde vai a nossa soberba?

Nossa sociedade está à frente de um desafio jamais enfrentado: o crescimento populacional aliado a demandas de consumo cada vez maiores. Esse fenômeno está impedindo a racionalização do uso dos recursos naturais do planeta. Nas atuais regras do jogo, o incremento de novas tecnologias não é suficiente para impedir nosso avanço na contramão, sinalizado por consistentes indicadores de insustentabilidade. E quanto mais tempo durar nossa paralisia, mais complexas passam a ser as fórmulas de um enfrentamento compatível.

Não é difícil obter um consenso teórico entre a maioria das pessoas sobre a necessidade de uma ruptura nos princípios que desconsideram as limitações do que a natureza pode nos prover. Portanto, precisamos urgentemente de mudanças inteligentes que busquem a compatibilidade entre o que é possível explorar e o que é fundamental conservar e proteger. Um desafio, porém, que não pode ser mantido por discursos vazios e iniciativas enganosas – marcas registradas do que se observa na atualidade.

A agenda pobre em inovações e compromissos concretos com a conservação oferecidos pela propaganda pública é um retrato do momento vivido em nosso país, em que a janela das oportunidades de crescimento econômico não reflete avanços na agenda de cuidados com o patrimônio natural. O contexto ainda é estranho ou inoportuno. Gera intensas reações contrárias, mesmo com a existência de uma realidade de forte consistência técnica e comprovável com cifras que indicam os prejuízos de empreendimentos que extrapolam limites.

É necessário reconhecer uma realidade que sustenta a inibição sistemática da evolução da agenda da conservação, um complemento fundamental do real desenvolvimento. Hoje, sustentamos na prática que esse tema é bem-vindo, mas como algo que justamente não atrapalhe o tal "desenvolvimento". A visão obtusa continua sendo onipotente. Promove a mudança de leis, facilita o que deveria ser executado de maneira mais consciente e impede a estruturação adequada de órgãos ambientais e de seus programas específicos, que minguam sem qualquer condição de impor-se diante do modelo que ainda mantemos. E não são apenas os governos que sustentam essa situação, mas boa parte da sociedade, amparada na retórica do crescimento econômico como base única e imperiosa para seguirmos em frente.

Os dois anos e meio da atual gestão do governo do estado do Paraná frustraram até mesmo as mais contidas expectativas sobre uma agenda que considerasse o tema da conservação da biodiversidade, parte integrante de uma agenda de prioridades. As reiteradas exposições públicas e promessas formais que assumiram um compromisso de desempenho "sem precedentes" neste campo mais uma vez encalham, de maneira lamentável e recorrente, presas às pautas de desenvolvimento convencional.

Além de não conseguirmos avançar, estamos reforçando a prerrogativa de que não adianta lutar contra as pressões que inibem a implantação de medidas que garantam um enfrentamento à degradação ambiental que sofre nosso estado ao longo de sua história de desenvolvimento econômico. Em verdade, os fatos reforçam as posições negativistas de que possibilidades de avanços nesse campo não passam de promessas no vazio, dentro da mais velha demagogia desenvolvimentista. Ou, para outros, representam o romantismo de conservacionistas que se recusam a admitir que as coisas são assim mesmo e que os prejuízos ambientais são parte inerente e indissociável dos negócios, do progresso e do desenvolvimento. E a inconsistência de nossos atos justifica-se pelos resultados obtidos hoje, independentemente das consequências que já amealhamos há tempos, inclusive.

A mudança de mando no governo do estado do Paraná trazia uma nova expectativa de mudanças. O tempo se esvai e, com ele, as chances de alguma movimentação mais consistente que tire nosso estado de sua atual condição de mero espectador, sem perspectivas de cumprir um papel diferenciado em relação às mudanças que o mundo demanda e precisará obrigatoriamente realizar. Triste não estarmos comemorando avanços nesta semana (e dia mundial) do meio ambiente. Esse é um dos grandes negócios que o Paraná e o Brasil não poderiam perder.

Clóvis Borges, médico veterinário e mestre em Zoologia pela UFPR, é diretor-executivo da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

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